segunda-feira, 16 de abril de 2012

Novas drogas preocupam médicos

A droga ‘Miau miau’ (mefedrona) foi proibida em Portugal há menos de três semanas, mas já estão à venda substâncias alternativas que produzem os mesmos efeitos. O consumo destes produtos – comercializados como ‘fertilizantes’ em  smart shops  _– está a preocupar os especialistas e já levou aos hospitais dezenas de utilizadores com surtos psicóticos.
A mefedrona – que foi associada a pela menos quatro dezenas de mortes no Reino Unido e na Irlanda – tem efeitos semelhantes aos da cocaína ou ecstasy e desde 2010 que havia uma recomendação para a sua proibição pela Comissão Europeia.
Há menos de 20 dias, a droga passou também a integrar a lista de substâncias proibidas em Portugal, a par da heroína ou da cocaína.
«A proibição é um claro sinal de que esta substância traz riscos. Mas já há substitutos da mefedrona a circular» , alerta João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências.
O especialista reconhece que mesmo com fiscalização há grandes dificuldades em controlar este mercado. «Estão constantemente a ser lançadas novas substâncias, com ligeiras alterações moleculares para produzirem os mesmos efeitos», o que torna também difícil controlar o seu consumo e sobretudo avaliar os riscos para a saúde destas novas substâncias.
«É um constante jogo do gato e do rato» , resume João Goulão.
Os efeitos de euforia da mefedrona são semelhantes aos da cocaína. E são idênticos aos dos produtos que, desde há cerca de um ano, começaram a ser vendidos em algumas smart shops portuguesas e que, segundo os rótulos, não contém mefedrona. Algumas tinham mesmo uma etiqueta colorida garantindo que não continham esta substância.
«Estas drogas têm efeitos semelhantes à cocaína mas são muito mais baratas» , diz Pedro, que era consumidor de mefedrona e agora compra pacotinhos semelhantes, mas que já não contém a substância proibida. Cada pacote de Bloom , um grama, custa numa smart shop do Bairro Alto, em Lisboa, 36 euros. Um meio grama não chega a 20 euros e aos iniciados é suficiente para garantir «uma moca» durante várias horas, explica outro consumidor.
As lojas estão abertas de manhã à noite. Todos os produtos vendidos são lícitos e portanto podem ser consumidos em qualquer local. «Hoje é fácil comprar drogas lícitas, há lojas em todo o lado, abertas a toda a hora e até têm serviço de estafetas», diz Pedro.
Crises psicóticas e casos de ansiedade
Mas as crises de ansiedade e alucinações provocadas pelo consumo de ‘fertilizantes’ alternativos à mefedrona estão a deixar preocupados os médicos que combatem o consumo de drogas.
No início do Outono, uma série de doentes com crises psicóticas começaram a chegar às urgências do Hospital de Faro. Tinham sintomas paranóides: ansiedade, sensação de perigo e de estarem a ser perseguidos.
«Eram pessoas jovens com episódios de crise psicótica e que tinham consumido drogas legais» , explica Norberto Sousa, coordenador da Equipa Técnica Especializada de Tratamento da Toxicodepedência do Sotavento algarvio.
«O que nos chamou a atenção foi o número de casos – cerca de uma dezena – tão concentrados no tempo. Foram atendidos em apenas um mês e meio e foi por isso que alertamos os serviços centrais» , diz o responsável, adiantando terem fortes suspeitas de intoxicação com substitutos de mefedrona, eventualmente combinados com outras substâncias.
A maioria destes doentes eram jovens _- os principais consumidores destas drogas. Mas não só. «Os casos que conheço são de poli-consumidores de drogas, já com 40 anos» , diz o médico.
«Como estas drogas são mais baratas e têm efeitos semelhantes aos da cocaína, que é cara e má no Algarve, estes toxicodependentes começaram a experimentar », justifica.
O especialista diz que estas drogas legais têm efeitos semelhantes a estimulantes como o LSD, mas mais preocupantes: «As alterações do humor são mais acentuadas do que com as drogas clássicas: muita ansiedade, muitas crises de insónia» .
A proibição da mefedrona terá feito os consumidores virarem-se para outros ‘fertilizantes’ e trouxe ao mercado novos produtos. « São substâncias menos conhecidas e com efeitos menos previsíveis» , diz o médico.
O administrador das duas smart shop Magic Mushroom, em Lisboa, garante, porém, que os produtos que comercializa são todos livres de mefredona e que a sua substituição começou no início do ano passado, muito antes de a droga ser proibida. «Não substituímos a mefredona por nenhuma substância, nem temos conhecimento de qualquer queixa em relação a estes produtos» , disse Helder Pavão.

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