A cada ano que passa é batido o recorde do número de novas drogas descobertas na União Europeia. Só este ano já foram identificadas 33 novas substâncias - no ano passado foram 24, quase o dobro das detectadas há dois anos. O PÚBLICO comprou uma destas drogas numa smart shop (tipo de loja onde são vendidas drogas que a lei não proíbe) de Lisboa. Comprou porque é legal. Até quando? A UE quer proibi-la e o mais certo é que o faça dentro de pouco tempo.
Conhecida como "miau-miau" ou "m-cat", a mefedrona está disponível nestas lojas ou em sites que comercializam as ditas "drogas legais". Comerciantes e consumidores dizem que imita os efeitos da cocaína ou do ecstasy. É vendida em saquinhos coloridos, em pó ou em pastilhas e o preço varia entre os 13 e os 35 euros. É vendida com rótulo de "fertilizante de plantas" ou outros semelhantes e um aviso: "Impróprio para consumo humano." Ingredientes: cetonas, extractos vegetais e glicose.
Mas como pode fertilizante imitar os efeitos de drogas proibidas? "Não é fertilizante", assegurou o especialista em novas drogas Roumen Sedefov, responsável pelo mecanismo de alerta rápido europeu do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), que ontem divulgou o seu relatório anual (ver texto principal). "O nome que lhe dão é uma estratégia para fugir ao controlo." A substância faz parte das catinonas sintéticas, que são derivados do composto principal da catinona, uma espécie de anfetamina.
Os efeitos a longo prazo da mefedrona não se conseguem avaliar, porque circula na Europa apenas desde 2007. Entretanto analisaram-na e, nas palavras de Sedefov, trata-se de uma droga "potencialmente perigosa". Sabe-se que está associada à morte de várias pessoas na Europa. O seu consumo preocupa o OEDT por se tratar de uma droga com "potencial para se fixar no mercado", ao contrário de outras novas drogas.
Por isso, a agência europeia das drogas pediu, há duas semanas, a interdição do consumo de mefedrona, confirmou ontem, em Lisboa, Wolfgang Götz, director daquele organismo, devido aos seus riscos para a saúde de quem a consome. A decisão, a tomar pela Comissão Europeia, deverá ser conhecida nas próximas semanas. Segundo o director do Instituto das Drogas e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, "tudo indica que venha a ser colocada na lista de substâncias proibidas".
É um jogo do gato e do rato. "O que se discute agora é a possibilidade de fazer classificações mais genéricas, mas depois há o problema de muitas destas substâncias serem parentes de medicamentos", disse.
A mefredona já é controlada em 15 países da UE, na Croácia e na Noruega. Portugal está fora dessa lista.
Em Março deste ano o IDT dizia ainda não a ter detectado no país. "Entretanto apareceu", afirmou ontem Goulão. "Temos casos muito pontuais e não temos registos de complicações nem de pedidos de ajuda."
Sobre a dimensão do consumo há só pequenos estudos. No Reino Unido, país onde a mefedrona goza de uma grande popularidade, um inquérito do OEDT em colaboração com a revista Mixmag, concluiu que a mefedrona era apontada pelas 2295 pessoas que responderam ao inquérito como a quarta droga mais comum depois da cannabis, do ecstasy e da cocaína.
O IDT não tem dados sobre o consumo em Portugal, mas o PÚBLICO identificou um indicador: no site de uma das smart shops portuguesas que faz o ranking dos produtos mais vendidos, o primeiro e o segundo lugares são ocupados por "fertilizantes de plantas".
Por Cláudia Sobral, com Amílcar Correia
http://www.publico.pt/Sociedade/todos-os-anos-surgem-dezenas-de-novas-drogas-permitidas-gracas-ao-vazio-legal_1465507
Conhecida como "miau-miau" ou "m-cat", a mefedrona está disponível nestas lojas ou em sites que comercializam as ditas "drogas legais". Comerciantes e consumidores dizem que imita os efeitos da cocaína ou do ecstasy. É vendida em saquinhos coloridos, em pó ou em pastilhas e o preço varia entre os 13 e os 35 euros. É vendida com rótulo de "fertilizante de plantas" ou outros semelhantes e um aviso: "Impróprio para consumo humano." Ingredientes: cetonas, extractos vegetais e glicose.
Mas como pode fertilizante imitar os efeitos de drogas proibidas? "Não é fertilizante", assegurou o especialista em novas drogas Roumen Sedefov, responsável pelo mecanismo de alerta rápido europeu do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), que ontem divulgou o seu relatório anual (ver texto principal). "O nome que lhe dão é uma estratégia para fugir ao controlo." A substância faz parte das catinonas sintéticas, que são derivados do composto principal da catinona, uma espécie de anfetamina.
Os efeitos a longo prazo da mefedrona não se conseguem avaliar, porque circula na Europa apenas desde 2007. Entretanto analisaram-na e, nas palavras de Sedefov, trata-se de uma droga "potencialmente perigosa". Sabe-se que está associada à morte de várias pessoas na Europa. O seu consumo preocupa o OEDT por se tratar de uma droga com "potencial para se fixar no mercado", ao contrário de outras novas drogas.
Por isso, a agência europeia das drogas pediu, há duas semanas, a interdição do consumo de mefedrona, confirmou ontem, em Lisboa, Wolfgang Götz, director daquele organismo, devido aos seus riscos para a saúde de quem a consome. A decisão, a tomar pela Comissão Europeia, deverá ser conhecida nas próximas semanas. Segundo o director do Instituto das Drogas e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, "tudo indica que venha a ser colocada na lista de substâncias proibidas".
É um jogo do gato e do rato. "O que se discute agora é a possibilidade de fazer classificações mais genéricas, mas depois há o problema de muitas destas substâncias serem parentes de medicamentos", disse.
A mefredona já é controlada em 15 países da UE, na Croácia e na Noruega. Portugal está fora dessa lista.
Em Março deste ano o IDT dizia ainda não a ter detectado no país. "Entretanto apareceu", afirmou ontem Goulão. "Temos casos muito pontuais e não temos registos de complicações nem de pedidos de ajuda."
Sobre a dimensão do consumo há só pequenos estudos. No Reino Unido, país onde a mefedrona goza de uma grande popularidade, um inquérito do OEDT em colaboração com a revista Mixmag, concluiu que a mefedrona era apontada pelas 2295 pessoas que responderam ao inquérito como a quarta droga mais comum depois da cannabis, do ecstasy e da cocaína.
O IDT não tem dados sobre o consumo em Portugal, mas o PÚBLICO identificou um indicador: no site de uma das smart shops portuguesas que faz o ranking dos produtos mais vendidos, o primeiro e o segundo lugares são ocupados por "fertilizantes de plantas".
Por Cláudia Sobral, com Amílcar Correia
http://www.publico.pt/Sociedade/todos-os-anos-surgem-dezenas-de-novas-drogas-permitidas-gracas-ao-vazio-legal_1465507
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