Quando a cocaína e a heroína se juntam, numa perigosa associação conhecida por speedball, formam-se novos compostos que provocam lesões mais graves no sistema neuronal do que quando consumidas em separado. Uma investigação liderada pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular, de Coimbra, revelou que a união entre as duas drogas provoca a morte de 20 por cento das células no cérebro, enquanto a heroína sozinha mata dez por cento.
O projecto quer contribuir para a identificação de novos alvos terapêuticos para prevenir a formação dos compostos e, desta forma, evitar a morte celular.“Quando administramos a heroína e a cocaína não verificamos a soma dos efeitos de uma com a outra mas algo bem mais prejudicial. Há novos compostos que se formam que são duas vezes mais neurotóxicos e que não estão presentes quando as drogas são consumidas separadamente”, explica Catarina Resende de Oliveira, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular.
A pesquisa – que envolveu investigadores da Faculdade de Medicina e de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra e ainda da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto – quis tentar perceber o que acontecia a nível celular e molecular no cérebro com os chamados speedball que são cada vez mais populares entre os consumidores de drogas e cujos efeitos comportamentais e não só ainda estão muito pouco estudados. Conclusão? Quando as duas drogas se unem, matam mais células. “Estas drogas induzem a morte celular. No caso da cocaína não é muito significativa, mas a heroína leva cerca de 10 por cento das células neuronais à morte. E quando juntamos as duas a morte sobe para cerca de 20 por cento”, sublinha a investigadora. A partir do conhecimento dos compostos que se formam e dos mecanismos que ocorrem a nível celular e molecular poderá agora ser possível identificar potenciais alvos terapêuticos capazes de proteger os neurónios, adianta.
Equilíbrio de efeitos?
As alterações comportamentais provocadas pelos chamados speedball nos consumidores são ainda motivo de controvérsia entre os especialistas. Há quem defenda que se poderá assistir a um equilíbrio dos efeitos euforizantes de uma e sedativos de outra quando se opta pela administração em conjunto destas duas drogas e quem defenda que há uma potenciação efeitos da euforia com o uso combinado, nota Catarina Resende de Oliveira. Numa primeira fase o trabalho foi feito com recurso a células neuronais de rato em cultura e consistiu na administração de baixas concentrações da mistura de modo continuado. Agora, os investigadores já estão a recorrer a modelos in vivo, para obter mais dados sobre os danos da interacção entre opiáceos e cocaína nos tecidos neuronais de ratinhos. “Nesta avaliação mais qualitativa, verifica-se que há também mais tecidos danificados”, avança Catarina Resende Oliveira. Além de possíveis lesões no cérebro, os cientistas vão tentar caracterizar a distribuição destas drogas nos diferentes tecidos do cérebro e avaliar se os novos compostos gerados pela combinação das duas interferem na neurogénese, que garante um processo reparador das lesões nas células.
Andrea Cunha Freitas
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