domingo, 29 de março de 2009

Pais desvalorizam o álcool

À conversa com... João Goulão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT)

Assumiu, há cerca de três anos, as competências na área da prevenção do consumo do álcool e conta, até Abril, aprovar o Plano Nacional de Redução dos Problemas Ligados ao Álcool.

Diz que é "por moda" que os jovens começam a beber cada vez mais cedo e lamenta que já saiam de casa com o objectivo de se embebedar. Mas não isenta de culpa os pais e a sociedade, que acusa de ser "complacente" com esta nova realidade.

Surpreenderam-lhe os resultados do estudo europeu que indica que 56% dos jovens portugueses até aos 16 anos admite beber, muitas vezes, até cair para o lado?

Não, não surpreenderam. Nós já tínhamos conhecimento destes dados há algum tempo, que estão em linha com outros estudos que temos vindo a desenvolver. Todos apontam para as mesmas tendências: uma descida no consumo das substâncias ilícitas e do tabaco e um aumento da prevalência dos consumos intensivos de álcool.

Mas é um crescimento muito grande: entre 2003 e 2007, passou de 25 para 56%, ou seja, duplica.

Sim. Felizmente continuamos ainda muito longe das médias europeias de prevalência de consumo de álcool, mas este padrão de consumo, que ocorre sobretudo ao fim-de-semana, deu de facto um salto muito grande. A preparação do Plano Nacional para a Redução dos Problemas ligados ao Álcool não é alheia ao conhecimento que já tínhamos desta tendência.

A que é que atribui este aumento?

São tendências que ocorrem por moda, não só em Portugal. A globalização também está envolvida nisto. As tendências da juventude são rapidamente importadas e exportadas e esta é uma tendência muito comum à juventude europeia.

Daí a proposta do IDT para aumentar dos 16 para os 18 anos a idade mínima para o consumo de álcool?

Há uma série de medidas previstas, desde a prevenção a campanhas de sensibilização. Tem de haver uma acção concertada na redução da oferta e da procura.

Como é que isso pode fazer-se?

Através de legislação que dificulte o acesso às bebidas alcoólicas por pessoas em quem os malefícios são muito mais sensíveis. A par do aumento da idade a partir da qual é possível adquirir álcool, há uma série de medidas ao nível da redução da procura que têm de passar por actividades de prevenção, esclarecimento e sensibilização das famílias e de todos os educadores para que estejam mais atentos aos hábitos dos jovens e para que os acompanhem mais de perto. Há uma enorme complacência na sociedade portuguesa relativamente a estes consumos e é importante que toda a gente tenha consciência dos riscos.

Os pais não estão suficientemente alerta?

De uma forma geral, os pais ficam assustadíssimos se sabem que um filho fuma um charro, mas não se importam nada de saber que apanham bebedeiras todos os fins de semana. E, se calhar, estes consumos de álcool acabam por ter muito mais riscos.

O Governo está disponível para fazer essa alteração legislativa?

Nós construímos este plano em colaboração com variadíssimas entidades, públicas e privadas, e esta proposta foi consensualizada no seio desse trabalho. A indicação que temos é que o Governo estará disponível para aprovar este plano na generalidade, o que implica que ficaremos obrigados a cumprir as medidas que estão lá previstas.

Quando é que estima que essa alteração possa ser feita?

O que temos previsto é que, até ao final de Abril, o plano esteja aprovado. A partir daí, no decurso de 2009, apresentaremos uma proposta legislativa.

Está preparado para que haja posições contra da parte dos produtores de bebidas?

Claro, aliás já houve algumas manifestações. Obviamente que a decisão política será fundamental. Tem que haver aqui um árbitro que faça escolhas, independentemente das discussões que possam ocorrer na Assembleia da República, nos media...

Gina Pereira

http://jn.sapo.pt/paginainicial/Sociedade/interior.aspx?content_id=1183970

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dados do consumo de drogas na Europa - Relatório Europeu

Relatório europeu indica que o consumo de drogas ilícitas está a estabilizar, mas subiu em Portugal a prática de beber cinco ou mais bebidas numa ocasião, o chamado "binge drinking". Isto de não servir de consolo aos pais, mas os estudantes portugueses de 15 a 16 anos estão entre os que melhor se portam. Consomem menos drogas ilícitas, fumam menos e embebedam-se menos vezes do que os outros europeus da mesma idade. Estão é já a emitir um sinal de alerta: disparou o consumo de grandes quantidades de álcool num curto espaço de tempo - o chamado "binge drinking".
O European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs (ESPAD) 2007 foi ontem divulgado pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. O estudo, que se faz de quatro em quatro anos, envolve uma amostra de cem mil alunos de 35 países europeus: os inquéritos foram feitos em escolas na Primavera de 2007, entre estudantes nascidos em 1991.
O presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, João Goulão, destaca dois aspectos. Um duplamente negativo: "A subida do consumo de álcool e a alteração de padrões." E um positivo: "A descida de todas as drogas ilícitas, o que está em linha com todos os estudos que têm sido publicados."
Mais de metade dos alunos europeus já experimentaram tabaco: 29 por cento tinham fumado nos últimos 30 dias; dois por cento consumiam pelo menos um maço por dia. Arménia, Islândia, Noruega e Portugal ocupavam os derradeiros lugares no ranking europeu (sete a 19 por cento). Áustria, Bulgária, República Checa e Letónia eram os primeiros (40 a 45 por cento).
O consumo de tabaco desceu. O panorama é diverso quando se atende ao consumo de bebidas alcoólicas: dois terços dos estudantes europeus já experimentaram e metade até já apanhou uma bebedeira. Uma média de 61 por cento bebera nos 30 dias que antecederam o inquérito. E 43 por cento admitira ter vivido episódios de cinco bebidas ou mais no último mês. "O total de bebidas alcoólicas consumidas no último dia de copos é por regra baixo em países onde os estudantes bebem com frequência, como a Grécia", menciona o documento. O oposto ocorre nos países onde se bebe com menos frequência, como a Finlândia, a Noruega, a Islândia e a Suécia. Há algumas excepções: na Dinamarca e na Áustria, os alunos dizem beber com frequência e em grandes quantidades.
O consumo de grande quantidade de álcool num curto espaço de tempo aumentou em mais de metade dos países, especialmente entre as raparigas que antes evitavam fazer isto. "O aumento mais pronunciado ocorreu em Portugal entre 2003 e 2007, onde o número de estudantes que relata episódios de consumo excessivo (binge drinking) nos 30 dias anteriores passou de 25 para 56 por cento".
Se apenas 26 por cento dos alunos portugueses declaram ter apanhado uma ou mais bebedeiras no ano anterior, como é que 56 por cento teve episódios de cinco ou mais bebidas numa ocasião? "A bebedeira é um estado mais subjectivo, o do número de bebidas mais objectivo", diz João Goulão.
O médico lembra que há um plano nacional do álcool já aprovado e que está em cima da mesa o aumento da idade legal de consumo de bebidas alcóolicas de 16 para 18 anos. Mostra-se agradado por o consumo de "drogas ilícitas", o que inclui cannabis, cocaína, crack, ecstasy, LSD e heroína, estar a diminuir ou estabilizar nesta faixa etária.
Os níveis mais elevados de experimentação de cannabis foram encontrados na República Checa, em França, Isle of Man, Eslováquia e Suíça (entre 45 e 33 por cento). E o de outras drogas ilícitas em Isle of Man, Letónia, França, Áustria. Em Portugal, em 2007, 13 por cento dos estudantes de 16 anos tinham consumido cannabis pelo menos uma vez na vida e seis por cento outra droga ilícita qualquer.
27.03.2009, Ana Cristina Pereira
http://jornal.publico.clix.pt/

quinta-feira, 26 de março de 2009

Afeganistão produz mais de 90 por cento da heroína que é vendida em todo o mundo

A produção de ópio no Afeganistão é de 7000 toneladas por ano e financia os taliban. Em 14 províncias não foi realizado qualquer programa de erradicação.
O enviado dos Estados Unidos para o Afeganistão, Richard Holbrooke, disse esta semana que o programa norte-americano de cerca de 800 milhões de dólares por ano para combater o narcotráfico afegão é "o mais ineficaz e com maior desperdício" dos últimos 40 anos. A sua afirmação pode ser justificada pelos números: segundo as Nações Unidas, é do Afeganistão que provém mais de 90 por cento da heroína vendida em todo o mundo.
O dinheiro do narcotráfico tem financiado os taliban que os EUA estão a combater. Enquanto estiveram no poder, os taliban opuseram-se ao tráfico de droga, mas depois de o seu regime ser derrubado encontraram no ópio uma importante fonte de financiamento.
A produção de ópio no Afeganistão é de 7000 toneladas por ano, ainda que um relatório da ONU refira uma diminuição de 19 por cento da produção em 2008 em resultado do declínio dos preços, salientou esta semana o Asia Times. Há, no entanto, 14 províncias afegãs onde não foi realizado qualquer programa de erradicação, e Helmand continua a ser a região de maior produção.
Em vez de terem sido destruídos 50 mil hectares de plantações de ópio, como era o objectivo, foram destruídos cerca de 5500 hectares, "em parte por causa de falta de financiamento e de equipamento apropriado", adianta o Asia Times.
Quando a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, incentivou o Irão, no início do mês, a participar na conferência das Nações Unidas sobre o Afeganistão, que se realizará na Holanda na próxima terça-feira, referiu a questão do narcotráfico, que as autoridades de Teerão conhecem bem. É pelo Irão que passam, todos os anos, 2500 toneladas de ópio provenientes do Afeganistão, e ao longo dos 1600 quilómetros de fronteira entre os dois países estão milhares de militares que têm também como objectivo combater o narcotráfico.
A directora do American Centre for Democracy, Rachel Ehrenfeld, escreveu no final de Fevereiro na revista Forbes que, a julgar pela situação actual, "o Afeganistão está a perder", e que, "para ganhar, a ligação entre os narcóticos e o terrorismo deve ser desfeita". Essa, acrescentou, "é uma condição necessária para uma estratégia bem sucedida no sentido de minimizar a influência crescente da Al-Qaeda, dos taliban e de grupos islamistas radicais no Afeganistão e no Paquistão".
Um relatório do International Narcotics Control Board estima que, no ano passado, os taliban lucraram com o narcotráfico entre 259 e 518 milhões de dólares, um valor pouco preciso, mas muito superior aos 28 milhões de dólares registados em 2005.
26.03.2009, Isabel Gorjão Santos

http://jornal.publico.clix.pt/

quarta-feira, 11 de março de 2009

Combate ao tráfico de droga no mundo

A aposta no combate ao tráfico de drogas não está a ter grandes efeitos em termos globais. Um estudo encomendado pela Comissão Europeia, divulgado ontem, avaliou a situação de 18 países durante dez anos, concluindo que houve ligeiras melhorias em países mais ricos e retrocesso em nações mais pobres.
O ponto de partida foi o ano de 1998. Dez anos passados, a situação continuou "mais ou menos inalterada". Na maioria dos países ocidentais houve uma aposta na penalização de traficantes, mas nem por isso os preços subiram. Pelo contrário, a descida foi na ordem dos dez a 30 por cento e não há prova de que o acesso às substâncias seja hoje mais difícil.
Em termos globais, os consumidores de cocaína e heroína aumentaram, mas enquanto os heroinómanos diminuíram nos países ocidentais, na Europa de Leste e na Ásia Central, assistiu-se a uma epidemia no uso de opiáceos (como a heroína). A produção de ópio no Afeganistão manteve-se estável até 2006, mas a partir daí disparou.
O estudo demonstrou também que as políticas de combate à produção de droga têm efeitos na área onde é produzida, mas depois assiste-se a uma transferência. Foi o que aconteceu na última década, com parte da produção de cocaína a passar do Peru e da Bolívia para a Colômbia.
Jornal Público 11.03.2009, Catarina Gomes

quinta-feira, 5 de março de 2009

Plano Nacional de Redução dos Problemas Ligados ao Álcool

O IDT, IP tomou a iniciativa de, congregando vários intervenientes nesta temática, promover a preparação da proposta do novo Plano Nacional de Redução dos Problemas Ligados ao Álcool.
Para mais informações e para quem quiser contribuir ou enviar sugestões pode dirigir-se ao seguinte endereço:
http://www.idt.pt/PT/Paginas/MontraIDT.aspx

terça-feira, 3 de março de 2009

"Juicy Event 4"


No dia 4 de de Março realiza-se a quarta edição do "Juicy Event", que, como vem já sendo hábito, decorrerá no bar Quebra, em Coimbra.

Este evento é organizado pela Associação Existências, no âmbito do Projecto Nov'Ellos, e passará a ocorrer todas quartas-feiras, sempre a partir das 23h.

Propomos a todos os que queiram aderir que venham experimentar os sumos naturais existentes e conhecer melhor o nosso Projecto.

Serão também disponibilizados materiais preventivos e informativos sobre substâncias psicoactivas a todos os interessados.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Cigarros electrónicos não apagam o vício

Os cigarros electrónicos, vendidos na Internet e anunciados como eficazes para a redução do consumo, não contribuem para a cessação tabágica nem para prevenir o cancro do pulmão. A publicidade é enganosa. Em várias lojas online, os cigarros electrónicos (ou e-cigarrettes) são anunciados como uma forma eficaz e económica de deixar de fumar. No entanto, são - apenas e só - um produto com nicotina, tal como o tabaco convencional, sem qualquer indicação para a desabituação tabágica. Por essa razão, nenhum dos produtos vendidos em sites portugueses está classificado como medicamento pelo Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde).
De acordo com informação da Autoridade do Medicamento, "o produto cigarro electrónico com pacotes contendo nicotina e indicado para habituação tabágica deverá ser classificado como medicamento e a sua qualidade, segurança e eficácia avaliadas convenientemente antes da sua disponibilização no mercado". Até ao momento, o Infarmed não recebeu qualquer pedido de autorização de introdução no mercado.
No site de uma das empresas que vende os e-cigarretes ( a Imunostar), pode ler-se "fume sempre que desejar" ou "deixe de fumar sem deixar o vício com o novo cigarro electrónico". Vasco Jorge, director comercial, esclareceu que a publicidade à cessação tabágica "é um erro que vai ser brevemente corrigido". "O cigarro electrónico substitui o cigarro convencional e pode ser consumido nos locais onde é proibido fumar, mas não é um produto de desabituação tabágica", reconhece. Outra vantagem é não conter as cerca de cinco mil substâncias tóxicas (50 das quais cancerígenas) presentes nos cigarros convencionais.
Os supostos benefícios do e-cigarrette são anunciados por várias empresas. No site da Brigtek, é mesmo publicitado como "o produto mais eficaz e económico para deixar de fumar". Noutros casos, não há referências directas à cessação tabágica (como o da Noveedados), mas num contacto mais directo, a responsável, Nancy Brett, defende a eficácia na redução do consumo.
No fim do ano passado, a Organização Mundial de Saúde alertou para o facto de os cigarros electrónicos não serem um método para deixar de fumar e conterem aditivos químicos que podem ser tóxicos, não estando demonstrada a sua inocuidade.
Helena Norte