quarta-feira, 29 de abril de 2009

Queima das Fitas Coimbra 2009

Entre os dias 1 e 9 de Maio, decorrerá em Coimbra, a Queima das Fitas 2009.
Considerando o facto de este ser, para além de um período de diversão e comemoração, uma época de risco para o consumo de álcool em excesso e adopção de diversos comportamentos de risco, incluindo nomeadamente comportamentos sexuais de risco, existirão, este ano, um conjunto actividades, sob a designação do projecto "Antes que te Queimes 2009".
As entidades incluídas neste projecto são as seguintes:
- Governo Civil do Distrito de Coimbra
- Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
- Associação de Estudantes da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
- Comissão Central da Queima das Fitas/2009
- ARS-Centro
- Delegação Regional do Centro do IDT
- Instituto Português da Juventude do Centro
- Núcleo de Estudantes de Medicina da AAC
- SOS-Estudante
- Projecto A(risco)/APF
- Saúde em Português
- Associação Académica de Coimbra
- Associação Existências – Projecto Nov’Ellos
- Canal UP

Os objectivos dos projectos são:

a) Aumentar os conhecimentos sobre o consumo de álcool e sexualidade responsável;
b) Promover a reflexão sobre as atitudes relacionadas com o consumo abusivo de bebidas alcoólicas, os problemas associados como intoxicação grave, prática de sexo desprotegido e policonsumos;
c) Reduzir os danos associados ao abuso de álcool e relacionados com o sexo não protegido e a condução de veículos;
d) Promover escolhas livres e informadas, que visem comportamentos responsáveis do ponto de vista pessoal e social;
e) Divulgar os serviços de atendimento/aconselhamento a jovens em matéria de saúde sexual e reprodutiva, consumo de substâncias psico-activas e saúde mental;
f) Esclarecer os jovens no âmbito de temáticas específicas relacionadas com a sua saúde sexual e reprodutiva, a saber: infecção VIH/SIDA e outras IST’s; contracepção de emergência e interrupção voluntária da gravidez.

As actividades a realizar incluem:

a) Realização de Outdoor, para identificação do projecto e sensibilização para as actividades a decorrer durante a Semana Académica;
b) Formação de “educadores de rua”;
c) Disponibilização de um espaço de apoio e aconselhamento, da Unidade de Saúde Móvel, no Largo da Portagem, entre as 22h e as 3h00;
d)Iniciativas de aconselhamento em contexto recreativo a desenvolver por grupos de jovens, para a redução de consumos/danos, medições de taxa de alcoolemia e glicemia, aconselhamento sexual, disponibilização de preservativos e primeiros socorros;
e) Disponibilização da Unidade de Saúde Móvel, na Praça da República, entre as 14h30 e as 19h, de 1 a 8 de Maio, da responsabilidade do CAD Coimbra;
f) Existência de “educadores de rua” no recinto da Semana Académica, com vista à sensibilização na área do consumo abusivo de álcool e sexualidade.

domingo, 26 de abril de 2009

Efeitos do consumo de álcool em Portugal

As doenças do fígado causadas pelo álcool estão à frente dos acidentes rodoviários e do cancro nas causas de morte em Portugal por consumo excessivo, que origina 3,8% dos óbitos anuais em Portugal, refere um estudo.
A mortalidade estabelecida pelo estudo de Helena Cortez Pinto corresponde a 4.054 pessoas em cada ano. Aquela investigadora indica que as mortes de portugueses por consumo excessivo de álcool são mais numerosas por cirrose, seguida de acidentes de carro e ainda por cancro.
Helena Cortez Pinto, que faz as suas pesquisas na Unidade de Nutrição e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular, procedeu também ao cálculo dos custos atribuíveis ao consumo de álcool: as doenças por este causadas correspondem a 1,25% dos gastos em saúde. Nestas contas, que repercutem as estatísticas disponíveis sobre o ano de 2005, a mesma cientista explicita que houve nesse ano uma despesa de 14,1 milhões de euros por doenças crónicas (do fígado, cancro, etc) causadas pelo consumo excessivo. Muito mais elevados do que este montante situaram-se os 82,2 milhões de euros de despesa devido a acidentes rodoviários e outras causas externas. Além disto, foi calculada a "factura" com tratamentos ambulatórios (93 milhões). No total, há quatro anos, houve custos de 189,2 milhões de euros atribuíveis ao álcool, nada menos do que 0,13% do Produto Interno Bruto (PIB) português.
Na escala das doenças e mortalidade associadas ao álcool excessivo, Helena Cortez Pinto coloca primeiro as doenças do fígado (28,3%, representando 1.147 óbitos), seguidas pelas mortes na estrada (26,2%, o que corresponde a 1.062 pessoas mortas) e ainda os falecimentos devido aos diversos tipos de cancro associados ao álcool (21%, ou seja, 851 indivíduos). Na sua comunicação ao encontro internacional, a investigadora portuguesa considerou importante que o país deve pôr em prática estratégias actuantes no sentido de promover hábitos de vida saudáveis e tornar o consumo de álcool moderado.
Por todas estas cifras, Portugal surge com 5% das causas de doenças ligadas ao álcool, uma taxa muito superior à média mundial calculada pela OMS.
A influência dos pais é determinante nos hábitos de consumo, referem as conclusões de um outro estudo, feito por especialistas do Instituto Suíço para a Prevenção dos Problemas de Álcool e Drogas. A equipa dirigida por Emmanuel Kuntsche estudou mais de 350 jovens ao longo de dois anos e chegou à conclusão de que os adolescentes com uma boa relação com os pais atrasam a idade de contacto com as bebidas, o que também vai determinar menores riscos de consumo excessivo. As circunstâncias em que há o primeiro contacto com o álcool são muito importantes, referem as conclusões deste estudo.
Eduarda Ferreira

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Heroína e cocaína juntas matam duas vezes mais neurónios

Quando a cocaína e a heroína se juntam, numa perigosa associação conhecida por speedball, formam-se novos compostos que provocam lesões mais graves no sistema neuronal do que quando consumidas em separado. Uma investigação liderada pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular, de Coimbra, revelou que a união entre as duas drogas provoca a morte de 20 por cento das células no cérebro, enquanto a heroína sozinha mata dez por cento.
O projecto quer contribuir para a identificação de novos alvos terapêuticos para prevenir a formação dos compostos e, desta forma, evitar a morte celular.“Quando administramos a heroína e a cocaína não verificamos a soma dos efeitos de uma com a outra mas algo bem mais prejudicial. Há novos compostos que se formam que são duas vezes mais neurotóxicos e que não estão presentes quando as drogas são consumidas separadamente”, explica Catarina Resende de Oliveira, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular.
A pesquisa – que envolveu investigadores da Faculdade de Medicina e de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra e ainda da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto – quis tentar perceber o que acontecia a nível celular e molecular no cérebro com os chamados speedball que são cada vez mais populares entre os consumidores de drogas e cujos efeitos comportamentais e não só ainda estão muito pouco estudados. Conclusão? Quando as duas drogas se unem, matam mais células. “Estas drogas induzem a morte celular. No caso da cocaína não é muito significativa, mas a heroína leva cerca de 10 por cento das células neuronais à morte. E quando juntamos as duas a morte sobe para cerca de 20 por cento”, sublinha a investigadora. A partir do conhecimento dos compostos que se formam e dos mecanismos que ocorrem a nível celular e molecular poderá agora ser possível identificar potenciais alvos terapêuticos capazes de proteger os neurónios, adianta.
Equilíbrio de efeitos?
As alterações comportamentais provocadas pelos chamados speedball nos consumidores são ainda motivo de controvérsia entre os especialistas. Há quem defenda que se poderá assistir a um equilíbrio dos efeitos euforizantes de uma e sedativos de outra quando se opta pela administração em conjunto destas duas drogas e quem defenda que há uma potenciação efeitos da euforia com o uso combinado, nota Catarina Resende de Oliveira. Numa primeira fase o trabalho foi feito com recurso a células neuronais de rato em cultura e consistiu na administração de baixas concentrações da mistura de modo continuado. Agora, os investigadores já estão a recorrer a modelos in vivo, para obter mais dados sobre os danos da interacção entre opiáceos e cocaína nos tecidos neuronais de ratinhos. “Nesta avaliação mais qualitativa, verifica-se que há também mais tecidos danificados”, avança Catarina Resende Oliveira. Além de possíveis lesões no cérebro, os cientistas vão tentar caracterizar a distribuição destas drogas nos diferentes tecidos do cérebro e avaliar se os novos compostos gerados pela combinação das duas interferem na neurogénese, que garante um processo reparador das lesões nas células.
Andrea Cunha Freitas

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Efeitos da descriminalização do consumo de drogas em Portugal

É um dos mais conhecidos constitucionalistas dos EUA, país onde a política da droga é das mais severas. Analisou o que se passa em Portugal. E concluiu que deve servir de exemplo.
Glenn Greenwald poderá abusar da adjectivação no relatório "Descriminalização da droga em Portugal: lições para criar políticas justas e bem sucedidas sobre a droga". Mas tem o mérito de ter chamado a atenção para o que por cá se faz em matéria de luta contra a toxicodependência. No documento apresentado na semana passada no Cato Institute de Washington, fala de "sucesso retumbante". E fá-lo comparando Portugal com a Europa e com os EUA.
Desde 1 Julho de 2001 (Lei n.º 30/2000, de 29 de Novembro), a aquisição, posse e consumo de qualquer droga estão fora da moldura criminal e passaram a ser violações administrativas. Desde então, o uso de droga em Portugal fixou-se "entre os mais baixos da Europa, sobretudo quando comparado com estados com regimes de criminalização apertados". Baixou o consumo entre os mais jovens e reduziram-se a mortalidade (de 400 para 290, entre 1999 e 2006) e as doenças associadas à droga.

Proibido? Sim, mas sem prisão
Porquê? Porque, adianta Greenwald, Portugal ofereceu mais oportunidades de tratamento. E cita peritos que atribuem esta mudança de abordagem à descriminalização. Por partes: consumir continua a ser proibido. Mas já não dá prisão. Quando muito, dá uma multa. Na maioria dos casos, uma reprimenda. E o encaminhamento para o tratamento.

Com isto, mitigou-se aquele que era o principal desafio da luta contra a droga: o receio de procurar ajuda e de, por essa via, acabar na cadeia. O estigma do crime diluiu-se, ao contrário do que acontece em Espanha, por exemplo, onde as sanções são raras, mas passa-se por processos penais, diz o constitucionalista. Por outro lado, resgataram-se recursos que eram gastos na criminalização (em processos e detenções, já que 60% deles envolviam consumidores), canalizando-os para o tratamento. Entre 1999 e 2003, cresceu 147% o número de pessoas em programas de substituição.

Greenwald cita estudos de 2006, segundo os quais a prevalência do consumo desceu de 14,1% para 10,6% (face a 2001) nos 13-15 anos, e de 27,6 para 21,6% nos 16-18 anos. A subida nas faixas etárias seguintes, adianta, não se prende com mais consumo, mas porque os jovens consumidores pré-descriminalização estão hoje mais velhos. Ou seja, se os adolescentes consomem menos, a prazo, menos adultos consumirão.

A análise de Gleen Greenwald estende-se ainda sumariamente à atitude dos vários quadrantes políticos portugueses e ao ambiente político pré e pós-descriminalização. Dá conta de um quase consenso actual, à excepção da Direita conservadora. E regressa aos números para desmontar os cenários de pesadelo previstos antes da lei. O consumo de droga não se generalizou, nem Portugal se transformou num paraíso turístico oferecendo "sol, praias e droga": 95% dos cidadãos atendidos nas comissões de dissuasão de toxicodependência criadas com a lei (para onde os consumidores são encaminhados pela Polícia) são portugueses. Do resto da Europa, serão à volta de 1%.

Greenwald diz que este caso de sucesso deveria ser tema de debate em todo o Mundo e lamenta que, confrontadas com ele, as autoridades americanas se tenham remetido ao silêncio.