quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Uruguai torna-se no primeiro país do mundo a legalizar comércio de marijuana



O Uruguai deu um passo pioneiro ao aprovar a polémica legislação que regula a produção, distribuição e venda de marijuana no país. A aprovação do documento na terça-feira, no Senado, faz assim com que este país de 3,3 milhões de habitantes se torne no primeiro no mundo a dar um passo neste sentido, ao mesmo tempo que a América Latina tenta combater de várias formas o crescente problema do narcotráfico.
O projecto de lei já tinha passado a 31 de Julho da Câmara dos Representantes, mas faltava agora a luz-verde do Senado, onde conseguiu reunir 16 votos a favor e 13 contra, adianta o diário espanhol El País. A favor votaram todos os senadores da coligação governamental Frente Ampla, do Presidente do Uruguai, José Mujica, e que integra socialistas, comunistas e tupamaros.
O país avança assim com a mudança apesar das críticas, com a própria Agência Internacional de Controlo de Narcóticos, das Nações Unidas, a advertir aquando da aprovação de Julho que a lei estaria “em completa contravenção com as provisões dos tratados internacionais sobre drogas que o Uruguai assinou”.
Apesar da maioria da Frente Ampla no Senado, mesmo assim o debate demorou 13 horas, tendo terminado com aplausos e com gritos na tribuna onde se ouviu “Uruguai, Uruguai” por parte dos activistas que esperavam exactamente este resultado.
Um grama a um dólar
No final de Outubro, o país já tinha feito saber que quer vender um grama de marijuana a um dólar (pouco mais de 70 cêntimos), com o objectivo de retirar mercado ao narcotráfico. A mudança inclui também um regime para o auto-cultivo e para os clubes de fumo. As vendas devem começar no segundo semestre de 2014, de acordo com o secretário-geral da Junta Nacional das Drogas (JND) do Uruguai, Julio Calzada. “É o tempo de colher e vender”, acrescentou, na altura, ao diário uruguaio El País.
Os interessados devem fazer um registo numa base de dados, que não será pública, e podem comprar até 40 gramas por mês nas farmácias. O responsável estimou que “um grama de marijuana equivale a um cigarro maior ou dois ou três dos mais finos”.
O consumo de cannabis no Uruguai não é penalizado, mas as penas vão ser altas para quem não esteja registado. O preço fixado tem o objectivo de “competir” com os narcotraficantes. “O custo da marijuana tem de se aproximar do preço em que se consegue a marijuana ilegal. Estamos a falar do preço do produto paraguaio, que é o que se vende cá, e que está perto do dólar por grama”, explicou Calzada.
Para além da venda, o projecto prevê mais duas modalidades para o acesso à marijuana. A auto-cultura, com um limite máximo de seis plantas, e a plantação em clubes, com uma capacidade até 45 pessoas e 99 plantas. De acordo com a JND, 20 hectares de plantações serão suficientes para cobrir o consumo do país.
120 mil a 200 mil consumidores
O consumo de marijuana duplicou nos últimos anos no país. Calcula-se que 22 toneladas sejam transaccionadas todos os anos, de acordo com dados da JND. No Uruguai existem entre 120 mil e 200 mil consumidores.
Foi em Junho de 2012 que o Governo do Uruguai anunciou pela primeira vez que estava a preparar uma nova legislação no sentido de legalizar a produção e consumo de marijuana, que ficaria nas mãos do Estado. A medida fazia parte de um pacote de 15 mudanças que o Executivo constituído pela coligação Frente Ampla estava a preparar para combater a insegurança sentida no país – em muito relacionada com o tráfico e consumo ilegal de estupefacientes. A medida chegou a ser retirada por ser bastante controversa no país sul-americano.
Na altura, José Mujica, antigo guerrilheiro tupamaro que foi eleito Presidente em 2010 e lidera o Executivo de coligação, adiantou que a venda a estrangeiros será proibida para evitar o turismo associado ao consumo de droga. Disse ainda que a ideia é que apenas o Estado possa plantar e vender marijuana a um grupo de adultos que estaria registado numa base de dados e, com isso, evitar também o consumo das chamadas drogas duras.
Mais tarde, em Dezembro, o Presidente do Uruguai recuou na intenção de legalização justificando que a decisão não estava “madura”, acrescentando que o povo tem de querer este tipo de medida e que não a deve impor só porque detém maioria. Porém, neste ano, os deputados retomaram a ideia.
A marijuana é apenas uma pequena parte de todo o narcotráfico, pelo que, mesmo com a legalização desta droga, ainda fica aberta uma grande porta para o mercado negro. Estima-se que só a marijuana represente um volume anual de 75 milhões de dólares (54,5 milhões de euros). As estatísticas do país indicam que cerca de 20% dos 3,3 milhões de uruguaios já consumiram pelo menos uma vez marijuana. Além disso, um estudo realizado pelas Nações Unidas em 2010 indica que 25% dos crimes cometidos por adolescentes que se encontram nos centros para menores do país estiveram relacionados com o consumo ou compra de álcool e droga.
A regulação da cannabis segue-se também a uma série de outros passos pioneiros no país, que no último ano aprovou a despenalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, lembra o El País.
Jornal Público - 11/12/2013
Romana Borja-Santos
http://www.publico.pt/mundo/noticia/uruguai-tornase-no-primeiro-pais-do-mundo-a-legalizar-comercio-de-marijuana-1615876


domingo, 1 de dezembro de 2013

Berlim prepara-se para abrir a primeira coffee shop



Berlim vai passar a contar com coffee shops, locais onde é autorizada a comercialização de drogas leves. Os vereadores do município de Friedrichshein-Kreuzberg aprovaram na quinta-feira um diploma que prevê a construção de uma coffee shop como forma de combater o tráfico de droga na capital alemã.
Será no Parque Görlitz, zona muito popular da cidade mas que nos últimos anos se tornou num dos principais locais de tráfico, que será construído o estabelecimento. A presidente do município, Monika Herrmann, eleita pelos Verdes, defende que a medida irá corrigir o falhanço da proibição de marijuana em vigor na Alemanha.
“A situação no Parque Görlitz mostra que a política de proibição das últimas décadas falhou. Chegou o momento de aplicar medidas fora do comum”, observou Herrmann, citada pelo Süddeutsch Zeitung.
A lei alemã proíbe a venda de marijuana, mas o executivo camarário já enviou a proposta para o Instituto Federal de Medicamentos e Dispositivos Médicos, que terá de aprová-la. “É a primeira vez que se faz uma proposta semelhante, portanto não se pode dizer se vai ser aprovada ou chumbada”, afirmou um porta-voz do instituto, citado pelo diário espanhol El País. A esperança do município é de que lhe seja concedida uma excepção baseada no interesse público da medida.
O diploma prevê que os futuros clientes terão de provar que têm mais de 18 anos e que nos locais será assegurada a presença de especialistas, que devem aconselhar sobre os malefícios do consumo de drogas.
O ministro do Interior do Estado de Berlim, Frank Henkel, eleito pelos conservadores da CDU, defende que “a ideia de se criarem coffee shops não é uma solução”. “A banalização de drogas perigosas não soluciona o problema”, acrescentou.
Pelo contrário, a autarca dos Verdes quer ir mais longe e sugere mesmo que a autorização se estenda a toda a capital. “Não se pode esquecer que a marijuana vendida pelo Estado é de melhor qualidade que a ilegal”, notou Herrmann.
A insegurança na zona é o grande argumento dos defensores da venda autorizada de drogas leves. No Parque Görlitz, durante os primeiros nove meses do ano, tiveram lugar 113 rusgas, de acordo com a polícia, sem que com isso o tráfico tenha cessado.

Jornal Publico 29/11/2013

http://www.publico.pt/mundo/noticia/berlim-preparase-para-abrir-a-primeira-coffee-shop-1614424