quinta-feira, 28 de abril de 2011

Jovens sem controlo em festas de droga

Há cada vez mais festas de música trance, em Portugal, onde menores misturam drogas químicas como o MD e o LSD. A situação, que se vive em muitos outros países europeus, está a preocupar a União Europeia que, numa conferência realizada no mês passado, alertou para o perigo da mistura de substâncias psicoactivas. Em Portugal, as autoridades também estão em alerta com estes eventos que, com a chegada do bom tempo, se multiplicam de Norte a Sul.

Aliás, um estudo da Organização Mundial de Saúde, apresentado na última semana, sobre comportamentos de risco entre os jovens portugueses, dos 11 aos 16 anos, revela um padrão no aumento do consumo de todas as drogas entre 2006 e 2010: 1,8% para 2% no LSD, 1,6% para 1,9% na cocaína e 1,6% para 1,8% no ecstasy. «É preocupante porque revela um padrão nos aumentos de consumo», diz Margarida Gaspar de Matos, que coordenou o trabalho em Portugal.

Quanto à entrada de jovens nas festas trance, a investigadora considera que «as autoridades deveriam monitorizar estas situações junto dos organizadores». Os 15, 16 anos, explica Margarida Gaspar de Matos, são precisamente «as idades em que os jovens começam a experimentar substâncias químicas». Isto, refere, «apesar de serem sobretudo os universitários» a fazê-lo.

Na maioria das festas, os menores não têm qualquer dificuldade em entrar e a segurança é quase nula. Por isso, também o presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT), João Goulão, admite que é necessário maior controlo. «A forma como estes eventos são organizados escapa ao controlo das autoridades», avisa o especialista.

São vários os tipos de festas existentes, que variam consoante o género de música, que vai desde o trance até ao dubstep, passando pelo drum and bass e o electro.

Para controlar situações perigosas, o IDT 'infiltrou' técnicos nestas festas, que se misturam com a multidão. São profissionais treinados para influenciar os utilizadores de modo a evitar o consumo excessivo de químicos e a actuar em casos extremos em que alguém tenha, por exemplo, um surto psicótico. Ao todo, adiantou ao SOL João Goulão são mais de 20 equipas de Norte a Sul do país nestas festas.

«A forma que temos de agir, em parceria com entidades locais, é pôr no terreno pessoas com quem os jovens se identificam», explica Goulão.

O SOL encontrou adolescentes de 15 e 16 anos nestas festas, que explicam o que os leva a consumir drogas tão perigosas e radicais como os alucinogéneos.

Diogo, 15 anos

Consome MD

'Fico no meu mundo'

Enquanto dança com energia no Opart, espaço de festas situado em Alcântara, Diogo conta a sua experiência com drogas. Considera-se «um noctívago» e confessa ser um habitual consumidor de MD (cristais sintéticos). Percorre as festas electrónicas por toda a região de Lisboa. «Gosto de tudo um pouco na música electrónica. Trance, electro, drum & bass. Tudo dá para dançar», refere o jovem, explicando que a música electrónica e as drogas estão misturadas. «Fico no meu mundo. Abstraio-me de tudo e de todos. Sou eu e a música».

Pedro, 16 anos

Consome MD e Haxixe

'Para as festas, só a ganza já não serve'

Pedro tem 16 anos e começou por consumir haxixe com os amigos aos 14. Hoje, admite, «para as festas só a ganza já não serve». Pedro explica o motivo: «Tenho de acelerar». O adolescente garante que não tem qualquer dificuldade de acesso às drogas. «O MD compra-se ao grama. Costumo comprar com amigos, para ficar mais barato», conta ao SOL. Apreciador de festas de trance, esclarece que consome para aguentar uma noite inteira: «Chego a beber três a quatro garrafas pequenas com mais um amigo. Tenho de ter energia para a noite toda».

E nem o medo do vício e dos problemas associados ao consumo destas drogas o preocupam: «No momento só quero aproveitar. Sou novo, depois logo se vê».

Lúcia, 15 anos

Consome MD, erva e LSD

'É fácil encontrar os vendedores'

Lúcia iniciou-se no mundo das drogas com 15 anos, ao fumar erva com uma amiga. Aos 16, já experimentou erva, haxixe, MD e ácidos. Não se sente viciada. «As drogas são um complemento para a diversão», diz, especificando: «Ajudam-me a criar estados de espírito diferentes do normal».

Por ser estudante, é dos pais que vem o dinheiro para comprar a droga e também ela garante que «é fácil encontrar os vendedores». «Quem quer comprar, tem sempre gente na zona que vende de tudo. Hoje torna-se mais fácil», refere.

Consome quando tem necessidade, quer seja «nos intervalos das aulas, na rua com os amigos ou em festas». Garante ainda que «agora toda a gente que chega aos 18 já experimentou muita coisa». Lúcia diz--se, porém, consciente de tudo. «Cada vez mais cedo vamos sabendo os efeitos e as consequências. Somos jovens, temos tempo para novas experiências».

Carlos, 16 anos

Consome MD e LSD

'É uma droga perigosa'

«Fico concentrado, e vivo para o mundo. Nem sempre a droga te deixa mais lento», conta ao SOL Carlos, de 16 anos. Gosta de «meter MD para curtir o som», e classifica-se como um consumidor consciente. Carlos gasta em média 10 euros por semana em haxixe e MD. «Sei até onde posso ir. No meu grupo de amigos todos nos controlamos e vemos se algum está a abusar», explica.

Trabalhador-estudante, afirma que o dinheiro para estas coisas vem do seu «bolso». Além disso, garante, peremptório: «Controlo o que compro porque o dinheiro custa-me a ganhar. É uma forma de não consumir demasiado».

Já experimentou LSD, mas admite que «é uma droga perigosa». «Esta sim, tira-te do mundo real. Não penso meter mais», promete.

Tiago, 16 anos

Consome Cocaína, MD, LSD

'Os ácidos queimam mais a cabeça'

Tiago, de 16 anos, está visivelmente cansado ao sair de uma festa na zona de Lisboa: «Aqui gasta-se muita energia. É a noite toda a dançar». Envolveu-se no mundo das drogas com apenas 14 anos, ao experimentar haxixe. Desde aí diz que já consumiu haxixe, erva, LSD, MD e cocaína. «Habitualmente consumo haxixe. MD, só nas festas e ácidos (LSD), só uma vez ou outra na casa de amigos. Cocaína só experimentei uma vez e não quero mais», conta ao SOL. Diz que o MD lhe dá energia.

«O corpo fica completamente enérgico e só queres curtir. E admite que os ácidos são mais perigosos. «Os ácidos queimam mais a cabeça. Ficas a alucinar com tudo e isso pode dar bom ou mau resultado». Consome MD por via nasal para «bater mais e mais rápido».

Luís, 17 anos

Consome Haxixe e MD

Para Luís, de 17 anos, a droga é «o fruto proibido mais apetecido». Consome haxixe e MD quando sai à noite e nas férias.

Apesar de dizer que «o MD é uma droga de diversão - a música, a noite, as luzes, tudo fazem querer mexer» -, admite que as consequências físicas podem ser desagradáveis quando passa o efeito. «Às vezes fico enjoado e com dores de cabeça».

sonia.balasteiro@sol.pt

por João Correia, João Vieira, Sónia Balasteiro

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=17376

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Consumo de haxixe aumenta entre os jovens

Os adolescentes portugueses consomem cada vez mais haxixe mas estão a fumar menos cigarros, revela um estudo nacional que entrevistou 5050 estudantes entre os dez e os 21 anos.

De quatro em quatro anos, a equipa do projecto Aventura Social da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa, regressa ao terreno e tenta traçar um quadro dos "estilos de vida e comportamentos dos adolescentes portugueses".

Em 2010, a equipa entrevistou 5050 alunos do 6º, 8º e 10º anos, com idade média de 14 anos e realizou um estudo, que é apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, esta quinta-feira.

Através deste trabalho, que é feito em Portugal desde 1996, é possível perceber as mudanças que se registaram na saúde dos adolescentes portugueses nos últimos 12 anos.

O estudo revela que os jovens consomem cada vez mais haxixe, depois da "baixa histórica" registada em 2006, e cada vez menos tabaco. O consumo regular do álcool também tem vindo a diminuir, apesar de o mesmo não se verificar com o "abuso episódico" de álcool, que continua a ser uma preocupação.

Há cada vez mais jovens a usar preservativos e é com os colegas que os adolescentes se sentem mais à vontade para conversar sobre sexualidade. Pais e professores são, regra geral, a última opção. Os investigadores verificaram ainda que, entre os adolescentes, os mais novos são os que têm mais comportamentos de risco, porque são os que menos usam preservativo.

O estudo revela ainda que os alunos passam mais tempo "sentados" a ver televisão ou em frente ao computador, que o consumo excessivo de doces (que tinha começado em 2002) continua a aumentar e que há cada vez mais casos de excesso de peso, que estava mais associado à infância e não à adolescência.

Os investigadores consideram que a saúde dos jovens adolescentes reflecte uma situação favorável, mas alertam para a dificuldade de manter as medidas quando elas começam a ter resultados positivos: "Veja-se o caso da experimentação do haxixe e do excesso de peso", lê-se no resumo do relatório.

O trabalho foi realizado pelo projecto de Aventura Social e pelo Centro da Malária e Doenças Tropicais do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Universidade Nova de Lisboa). Este é um estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde, que se realiza de quatro em quatro anos em 44 países.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1830419&page=-1

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Alunos de 13 e 15 anos apanhados com droga no interior da escola Escola Secundária Infanta D. Maria

Na semana passada, um aluno do 8.o ano da Escola Secundária Infanta D. Maria foi surpreendido na posse de quatro gramas de haxixe, enquanto outro, do 10.o ano, deixou cair, em plena sala de aula, um saco com produto estupefaciente
A comunidade educativa da Escola Secundária Infanta D. Maria anda alarmada com o possível tráfico de droga nas imediações do estabelecimento de ensino, concretamente no espaço da Praça Heróis do Ultramar, em frente ao Complexo Olímpico de Piscinas de Coimbra e ao Pavilhão Multidesportos Dr. Mário Mexia. Na semana passada, dois alunos, do sexo masculino, foram detectados na posse de produto estupefaciente. Numa das situações, um jovem de 13 anos, aluno do 8.o ano, foi apanhado com quatro gramas de haxixe (equivalente a uma pequena barra). Noutro caso, um aluno do 10.o ano, com 15 anos, deixou cair, em plena sala de aula, um saco com droga.
Ontem, confrontada com estas duas situações, Maria do Rosário Gama não tentou esconder o que quer que fosse. «É verdade. Detectámos situações de consumo e dois jovens na posse de droga», lamentou a directora da escola, antes de revelar que «já foram accionados todos os meios», explicando que as situações «já foram comunicadas aos serviços de segurança da Direcção Regional de Educação do Centro, à Escola Segura da PSP, ao Instituto de Droga e da Toxicodependência e ao Governo Civil de Coimbra».
Segundo Maria do Rosário Gama, também já foi «pedida ajuda ao comandante da PSP», assim como foi «realizada uma reunião com a Associação de Pais e dois juízes, que são pais, deram uma ajuda». A preocupação da escola é ainda maior, dado o conhecimento da existência de «meninas envolvidas no consumo» de droga. «Não sei a extensão do consumo», assumiu a directora da Escola Secundária Infanta D. Maria, mais habituada a ver a sua escola ser falada pelos melhores motivos entre os quais a liderança do ranking das melhores escolas públicas nacionais.
«Já tinha avisado, há muito tempo, para o que se passava aqui à frente da escola, alertando para a possibilidade de ser traficada aqui droga», realçou Maria do Rosário Gama, que, no entanto, reconheceu «a falta de meios da Escola Segura», antes de destacar que «polícias à paisana era a maneira mais fácil de apanhar quem aqui anda nessas práticas». «O segurança que aqui está vê os garotos a traficar fora da escola. Muitos não são daqui, mas vêm aqui ter e passam de carro», assegurou, antes de anunciar que, «antes das 8h00 e depois das 18h30, é muito fácil traficar».
Situações envolvem alunos novos na escola
Ainda segundo a directora, os alunos envolvidos nestas práticas «vieram todos este ano para a escola», integrando uma turma do 8.o ano e outra do 10.o ano. «Estamos a fazer o que podemos e a Associação de Pais também. Está toda a gente avisada», reconheceu Maria do Rosário Gama, reforçando o apelo às autoridades: «Têm de ir mais além e exercer maior vigilância em frente à escola, mas disfarçada». Após revelar que «os pais envolvidos já foram avisados das suspeitas», a directora apelou a «uma atitude concertada para, com segurança, identificar todos os casos».
Maria do Rosário Gama assumiu que «o problema tem de ser atacado com força», de modo «a não perder o controlo da situação». «A vontade que me dá, é revistar toda a gente, todos os dias», continuou, assegurando que «todos sabem que há consumo» e afligindo-se com «o grande número de miúdos em risco». «Há pais muito atentos, mas outros não. Os pais têm de perceber que os filhos não precisam de dinheiro dentro da escola, pois têm um cartão electrónico com que podem comprar tudo», prosseguiu.
Antes de concluir, a directora da Escola Secundária Infanta
D. Maria garantiu que «a escola está atenta», apelando à «colaboração» de todos os pais e destacando o trabalho «impecável» da associação de pais. «Somos uma escola de reconhecida qualidade e a grande qualidade da maior parte dos alunos é conhecida. Não queremos que meia-dúzia de alunos estrague o que de bom aqui temos», encerrou Maria do Rosário Gama.
Escrito por João Henriques
Jornal Diário de Coimbra
http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=12019&Itemid=135