segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Anfetaminas


As anfetaminas são drogas estimulantes que prometem energia e aumento da capacidade de atenção e de memória. A Europa é o o maior produtor destes estupefacientes. São procuradas, em Portugal, pelos jovens estudantes como auxiliar de estudo. Cumprem a sua missão, mas por pouco tempo, provocando graves danos no sistema nervoso central.

“O cérebro pode recuperar, mas nunca volta a ser o que era antes do consumo”, avisa Teresa Summavielle, do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto, que explicou ao P3 quais são os efeitos provocados por estas substâncias.

Os efeitos de concentração e atenção duram apenas cerca de uma hora, salienta a investigadora. Depois segue-se o inverso: “Passamos a ter as pessoas com um nível de ansiedade muito maior, muito mais irritáveis, começamos a ter uma capacidade de atenção mais perturbada”, sublinha.

Neurórios forçados a produzir "non-stop"
Atingindo o cérebro, as anfetaminas provocam a degradação das células, que vão perdendo energia e envelhecendo. A acção destas drogas envolve um neurotransmissor, a dopamina, associada ao prazer e à motivação, que é libertado, nestas situações, em grandes quantidades.

Estes comunicadores entre os neurónios no cérebro, após cumprirem a sua função, têm de voltar ao neurónio original. O que, sob acção das anfetaminas, não acontece. É bloqueado o sistema que as transporta e estas ficam presas entre os neurónios, desgastando a célula que tem de produzir mais dopamina.

“As células não estão programadas para estar sempre a produzir, mas sim para reaproveitar. Se as obrigarmos a estar constantemente a produzir neurotransmissores, as suas reservas esgotam-se”, explica a cientista, que fez uma investigação sobre o ecstasy, também ele uma anfetamina, mas que liberta, por sua vez, grandes quantidades de serotonina, substância associada ao bem-estar.

Drogas com mais influência no cérebro jovem
Mas não é só no cérebro que as anfetaminas actuam. Antes de chegarem ao sistema nervoso central, estas substâncias são transformadas, pelo fígado, em outros compostos químicos bastante tóxicos. As anfetaminas perturbam todo o organismo, podendo dar origem, por exemplo, a problemas cardíacos graves.

Num cérebro adolescente, ainda em formação, estas drogas podem ter maior influência, segundo explica Félix Carvalho, do serviço de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

Se consumidas regularmente, há ainda a “memória das drogas”, ou seja, estas substâncias modificam as estruturas cerebrais e os neurónios para promover o seu consumo, mesmo passados vários anos.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Alto consumo de ansiolíticos representa perigo nas estradas portuguesas

Um estudo feito no âmbito do projecto europeu DRUID (Driving under the Influence of Drugs, Alcohol and Medicines) coloca Portugal em primeiro lugar, entre 13 países, em relação à quantidade de pessoas (2,73%) que conduz sob o efeito de benzodiazepinas, ou seja, de ansiolíticos. Este não é o principal problema do país, onde perto de 9% dos jovens condutores consomem álcool, mas deverá dar origem a novas orientações nas políticas de prevenção de acidentes rodoviários.

O relatório completo da investigação feita em Portugal por uma equipa do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) só será conhecido na próxima semana, em cerimónia organizada pelo Governo. Mas documentos com dados parciais permitem já extrair alguns dos dados mais significativos de um estudo que tem a particularidade de, pela primeira vez, fornecer informação sobre condutores não envolvidos em acidentes de viação e, também, de permitir compará-la com outros países europeus (Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Hungria, Holanda, Itália, Lituânia, Noruega, Polónia, República Checa e Suécia).

O estudo, desenvolvido pela Comissão Europeia, visa obter uma avaliação estatística fundamentada da prevalência do consumo de álcool, droga e fármacos nos diversos países da União Europeia e é considerado determinante para a definição de políticas de prevenção.

Elas preferem ansiolíticos

Em Portugal, particularmente, as operações rodoviárias de controlo dos níveis de álcool no sangue e de recolha de amostras de saliva foram realizadas por equipas do Instituto Nacional de Medicina Legal (com a colaboração das forças de segurança) e envolveram 3965 condutores, que participaram de forma voluntária e anónima. Entre Janeiro de 2008 e Junho de 2009, aquelas pessoas foram escolhidas de forma aleatória, em várias estradas nacionais. Mas tanto as áreas geográficas do país como as horas, bem como os dias da semana e os meses, foram fixados de forma a tornar a amostra representativa.

Em 10% do total de condutores portugueses foi encontrada pelo menos uma substância psicoactiva. As mais prevalentes foram o álcool (sozinho, em 4,93% dos casos; e associado a drogas, em mais 0,42%), as benzodiazepinas (em 2,73% dos condutores) e a THC, que é o princípio activo da cannabis (em 1,38% dos casos).

Duarte Nuno Vieira, director do INML, escusou-se a comentar os dados antes de eles serem tornados públicos pelo Governo. No entanto, ele próprio, na qualidade de investigador, foi um dos autores de artigos científicos sobre a condução sob o efeito de benzodiazepinas que defenderam a necessidade de um aconselhamento médico criterioso dos consumidores, por aqueles serem fármacos que têm como consequências a diminuição da atenção, da concentração, dos reflexos, da capacidade visual, da coordenação motora e do raciocínio.

O estudo vem mostrar que Portugal se destaca, precisamente, pela percentagem de condutores - 4,75% das mulheres e 1,68% dos homens - que conduz sob o efeito de ansiolíticos. Com uma particularidade: o consumo deste medicamento verifica-se especialmente entre as mulheres mais velhas, com 50 ou mais anos de idade (10,38%). O estudo permitiu ainda apurar que a prevalência de casos é de 4,58% aos sábados e domingos, 3,4 vezes maior do que nas noites dos restantes dias da semana (1,56%). Durante o dia, a variação é mínima entre o fim-de-semana (2,71%) e os restantes dias (2,73%).

Jovens lideram no álcool

No que respeita ao consumo de álcool - sempre privilegiado nas campanhas de prevenção rodoviária -, é a Itália que surge à cabeça do grupo (8,59%), seguido da Bélgica (6,42%), de Portugal (4,93%) e de Espanha (3,92%). Ainda assim, Portugal merece referências particulares, por o maior grupo de consumidores serem os jovens. Em concreto, verificou-se que, em média, a prevalência de álcool nos homens é de 6,21% e nas mulheres de 2,59%. No grupo de pessoas com idades entre os 18 e os 24 anos, contudo, os números saltam para 9,76% e 8,0%, respectivamente. É referido no estudo que se trata de uma excepção: na maior parte dos países, os condutores com álcool pertencem principalmente aos dois últimos grupos etários, entre os 35 e os 49 anos e os com 50 e mais anos. É destacada, ainda, outra particularidade: a prevalência do álcool, nos restantes países, é, em geral, mais baixa durante o dia, de segunda a sexta-feira. Em Portugal, a percentagem de condutores consumidores de álcool é mais alta durante o dia do que no período nocturno.

Em terceiro lugar, no tipo de substâncias psicoactivas detectadas nos condutores portugueses está a cannabis. O seu princípio activo foi identificado em 72% dos casos de consumo associado de álcool e droga e, quando tomada isoladamente, em 1,38% dos condutores. Neste campo, o das drogas ilícitas, é Espanha que ocupa o pior lugar, com uma prevalência de 8,20%. Seguem-se a Itália (3,92%), a Holanda (2,51%) e Portugal (1,80%). 

11.01.2012 - 11:41 Por Graça Barbosa Ribeiro

Pastilhas e adesivos de substituição de nicotina não funcionam a longo prazo

Deixar de fumar depende mais da vontade e do ambiente social dos fumadores do que dos produtos habitualmente usados para ajudar no processo, como pastilhas ou adesivos de nicotina, que não têm um efeito perdurável. A conclusão é de um estudo da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, que não surpreende os médicos, mas põe em causa uma indústria em crescimento.
Nos Estados Unidos, onde aqueles produtos são de venda livre desde 1997, o mercado progrediu dos 129 milhões de dólares em 1991 para os 800 milhões de dólares em 2007, segundo o The New York Times (o que equivale, ao câmbio actual, a 100,7 milhões de euros e a 624,9 milhões de euros, respectivamente).

Em 2002, as conclusões de um inquérito alargado levado a cabo pela Universidade da Califórnia, em San Diego, sugeriam que o uso de pastilhas e adesivos de nicotina era indiferente para quem tentava deixar de fumar. O que contrariava os estudos médicos em que se baseavam as recomendações para a utilização destes produtos.

A controvérsia tem sido muita, gerada a partir de resultados aparentemente divergentes. No entanto, o estudo feito em Harvard, o mais completo e rigoroso produzido até aos dias de hoje, é o primeiro a acompanhar ao longo de vários anos um mesmo grupo de fumadores que tenta deixar de fumar, se de facto conseguem fazê-lo e como.

O estudo, publicado nesta segunda-feira no Tobacco Control, arrancou em 2001 com uma amostra representativa de 1916 adultos, dos quais 787 tinham acabado de deixar de fumar. A cada dois anos, até 2006, foram questionados sobre o uso de produtos alternativos de nicotina, períodos de abstinência de tabaco e recaídas.

O que os investigadores verificaram é que cerca de um terço das pessoas que estavam a tentar deixar de fumar recaíam, sem que o recurso ou não de pastilhas ou adesivos de nicotina no processo terapêutico fizesse diferença, com ou sem acompanhamento médico. Gregory Connolly, director do Centro para o Controlo Global de Tabaco, da Faculdade de Saúde Pública de Harvard, admite, no entanto, benefícios no curto prazo.

“Não estudámos se os adesivos ou as pastilhas ajudavam a parar [de fumar] no curto prazo. Há provas claras de que ajudam”, disse Gregory Connolly, citado pelo Guardian. “O que demonstrámos é que o efeito não dura no longo prazo.”

A reposição de nicotina pode ajudar a parar de fumar, mas não é suficiente para prevenir recaídas à medida que o tempo passa. Segundo os investigadores, a motivação pessoal, o apoio de família e amigos e as regras aplicadas no local de trabalho são muito importantes no processo, assim como campanhas mediáticas, aumentos de impostos sobre o tabaco e leis para a proibição de fumar em certos locais.

Medicamentos têm de ser adaptados às pessoas

Luís Rebelo, da Confederação Portuguesa de Prevenção do Tabagismo, desvaloriza as conclusões da investigação e refere a existência de “muitos estudos” que avaliaram as taxas de êxito das terapias de substituição da nicotina. “Não me deixo impressionar, este estudo não põe em causa a investigação que é feita há vários anos”, afirma, destacando a “amostra pequena” utilizada.

Para que estes medicamentos sejam eficazes, declara, “têm de ser adaptados às pessoas e às suas características”. O especialista sublinha ainda a importância da monitorização para que haja resultados. Para Luís Rebelo, o facto de estes medicamentos serem de venda livre pode fazer com que as pessoas sejam “mal orientadas”, tomem doses mais baixas de nicotina do que deveriam e não obtenham os resultados esperados.

10.01.2012 - 11:22 Por Hugo Torres, Rita Araújo

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Investigadores relacionam consumo de ecstasy com alterações na visão

Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra descobriu que o consumo de ecstasy pode provocar alterações na visão. Os resultados da investigação conduzida no Instituto Biomédico de Investigação da Luz e Imagem (IBILI) acabam de ser publicados na revista científica PloS One.

O coordenador da equipa, Francisco Ambrósio, citado num comunicado da Universidade, afirma que este “é um primeiro passo para se perceber que efeitos poderá ter o consumo continuado de ecstasy na fisiologia da retina”.

Apesar de se conhecer os efeitos nocivos do ecstasy no cérebro, não se sabia se afectava a visão, nomeadamente a função da retina. Os investigadores conseguiram demonstrar, através de experiências em animais, que a substância pode alterar a percepção e acuidade visual durante um período de pelo menos 24 horas.

A equipa pretende “mimetizar, também em modelo animal, o uso continuado de ecstasy segundo dois paradigmas: o consumidor jovem que vai passar uma semana de férias em grupo e toma diariamente ecstasy e o consumidor jovem de fim-de-semana”, avaliando as alterações na fisiologia da retina.