segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Estudo: Cigarros estão "mais perigosos que nunca"



Os cigarros podem provocar mais problemas de saúde do que os previamente detectados, incluindo cancro no cólon e fígado, cegueira, diabetes e disfunção eréctil, refere um relatório do governo dos Estados Unidos hoje divulgado.
Responsáveis pelos serviços de saúde dos EUA reuniram-se na Casa Branca para divulgar o último estudo do Surgeon General sobre as consequências do consumo de tabaco, cinco décadas após o primeiro relatório onde se alertava que fumar provocava cancro do pulmão.
Nos Estados Unidos, o consumo voluntário de tabaco permanece a primeira causa de morte prematura, com cerca de 500.000 óbitos por ano.
"Surpreendentemente, 50 anos depois ainda estamos a detectar novas formas de como o tabaco prejudica e mata as pessoas", disse o director do Centro de controlo e prevenção de doenças, Thomas Frieden.
"O tabaco ainda é mais prejudicial do que pensávamos".
Quanto aos fumadores passivos, expostos ao fumo do tabaco, o documento refere que enfrentam riscos crescentes de ataque cardíaco.
Os responsáveis pelo relatório do Surgeon General alertam ainda para o facto de os cigarros modernos serem "mais fortes e mais perigosos que nunca".
"Os fumadores têm hoje um maior risco de contrair cancro do pulmão em relação ao primeiro relatório do Surgeon General divulgado em 1964, e mesmo que fumem menos cigarros".
"A forma como os cigarros são fabricados e os químicos que contêm alteraram-se com os anos, e algumas dessas alterações podem ser um factor de maiores riscos de cancro do pulmão", afirmam.
As taxas de fumadores nos Estados Unidos têm vindo a diminuir, com 18% por cento de fumadores actuais em comparação com os 42% há cinco décadas.
Um estudo norte-americano divulgado na semana passada demonstra que apesar de uma diminuição do número de fumadores em diversos países, o seu número aumentou de 721 milhões para 967 milhões em 2012, devido ao crescimento populacional ou ao aumento da popularidade dos cigarros nos países em desenvolvimento.

Jornal Sol, 17 de Janeiro, 2014
Lusa/SOL
http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=97169

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Primeiro estudo a associar tabaco ao cancro do pulmão foi publicado há 50 anos



Tabaqueiras tinham conseguido negar sempre trabalhos anteriores, até que o relatório de 1964 do médico Luther Terry, também ele fumador, veio tornar o tema um assunto de saúde pública.
O grande ponto de viragem na forma como se olha para o tabaco faz 50 anos, depois de em Janeiro de 1964 um médico norte-americano do Surgeon General ter publicado um estudo que associava o seu consumo a um aumento do cancro do pulmão. Antes, outros trabalhos já tinham feito este alerta, mas a indústria tinha sempre conseguido negar a base científica dos mesmos ou encontrado novos filtros que prometiam ultrapassar os malefícios encontrados.
Luther Terry, o médico responsável pela mudança de um tema que era visto como uma escolha individual para uma questão de saúde pública, teve desde logo vários pontos a seu favor: ele próprio era fumador e percebeu que teria de trabalhar com a indústria tabaqueira para não ver questionado no final o trabalho do organismo que serve de base a muitas das decisões relacionadas com a saúde pública naquele país. Assim, para construir a equipa de trabalho, deixou que a própria indústria validasse um a um todos os nomes, sendo que do total de dez elementos só metade não eram fumadores.
Aliás, a própria equipa de investigadores era reveladora da tendência social da época, onde se estima que mesmo entre a classe médica entre um terço a metade dos clínicos fossem fumadores. Nos anúncios e pelas ruas abundavam também imagens de desportistas famosos a fumar, até o conhecido desenho animado Fred Flintstone empunhava cigarros, não havia nenhuma mesa de café sem um cinzeiro e a publicidade era feita sem restrições, recorda o The Detroit News, que adianta que na altura do estudo 42% da população adulta dos Estados Unidos era fumadora.
Mesmo à medida que o trabalho se desenvolveu, Luther Terry continuou a fumar e foi a colega Eugene Guthrie que o persuadiu a deixar o hábito antes da histórica conferência de imprensa, brincando que se o quisesse continuar a fazer devia fazê-lo fechado num armário, como contou recentemente numa entrevista à AP, citada pelo The Detroit News.
O trabalho, mesmo assim, foi envolto em fortes medidas de segurança e divulgado finalmente a 11 de Janeiro de 1964, um sábado — para evitar os efeitos em bolsa e conquistar a imprensa de domingo. Na divulgação pública — que pela primeira vez colocou o tema na capa dos jornais —, Luther Terry disse que o relatório, que analisou 7000 artigos científicos com o apoio de mais de 100 consultores, permitiu estabelecer a existência de uma relação causal entre consumo de tabaco e algumas formas de cancro, como do pulmão e da laringe, no homem, bem como outras doenças das vias respiratórias e cardiovasculares. Referia-se também a relação de dependência.
O médico recomendava, por isso, que o Governo tivesse uma intervenção urgente para evitar as doenças prematuras e as mortes e que tivesse uma mão pesada nas políticas. Duas décadas depois, Terry chegou a descrever o momento como “uma notícia bombástica que atingiu o país e que fez as primeiras páginas dos jornais e noticiários de rádios e televisões nos Estados Unidos e noutros países”.
Na altura, o trabalho não referia as mulheres (uma minoria entre os fumadores), mas mais tarde vários trabalhos, alguns também do Surgeon General, vieram acrescentar que os problemas são extensíveis às mulheres e também a outros tipos de cancro e a outras doenças.
Em apenas três meses, o consumo de tabaco nos Estados Unidos caiu 15%, apesar de depois do choque inicial as vendas terem recuperado em parte, o que levou as autoridades a pensarem em novas acções. Nas décadas seguintes, desde avisos nos maços de tabaco a restrições nos anúncios publicitários ou mesmo proibição dos mesmos, várias foram as medidas tomadas e que influenciaram países de todo o mundo, a que se juntaram outras como o aumento de impostos ou a protecção específica das camadas mais jovens da população.
29 mortos por dia em Portugal
Os 50 anos assinalam-se numa altura em que os últimos dados da Direcção-Geral da Saúde (DGS), divulgados em Novembro, apontam para que em 2012 o tabaco tenha sido responsável pela morte de cerca de 10.600 pessoas em Portugal. São 29 pessoas por dia, nada mais, nada menos do que 10% da mortalidade anual na população com 30 ou mais anos. Numa altura em que a revisão do lei do tabaco foi adiada para 2014, ficou-se também a saber que há dados que apontam para um aumento do número de fumadores nos últimos cinco anos.
A prevalência de fumadores ultrapassa os 20%, sendo que dentro destes mais de 30% são homens. A DGS acentuou na altura a necessidade de rever a Lei do Tabaco para promover uma redução sustentada do consumo, em particular nos jovens. É que mais de 90% dos fumadores começaram a fumar antes dos 25 anos. O sabor, o preço e a marca são os factores que mais influenciam a escolha do tabaco e mais de oito em cada dez fumadores iniciaram o consumo devido à influência dos amigos.
Jornal Público
Romana Borja-Santos 06/01/2014
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/primeiro-estudo-a-associar-tabaco-ao-cancro-do-pulmao-foi-publicado-ha-50-anos-1618561


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Descoberta molécula que protege o cérebro da dependência de canábis



Entre os efeitos mais conhecidos, estão os défices cognitivos e, nomeadamente, problemas de memória, bem como uma perda geral da motivação
Investigadores descobriram que uma molécula produzida pelo cérebro constitui um mecanismo natural de defesa contra os efeitos nefastos da canábis, abrindo caminho a possíveis tratamentos contra a dependência desta droga, segundo um estudo hoje publicado na revista norte-americana Science.
Numa altura em que os dependentes de canábis são estimados em mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo, duas equipas de investigadores do Inserm (Instituto Nacional da Saúde e da Investigação Médica francês) interessaram-se pela pregnenolona, um precursor de todas as hormonas esteroides (progesterona, testosterona, etc.).
Enquanto se pensava geralmente que a pregnenolona não tinha um efeito biológico próprio, os investigadores mostraram que ela é, de facto, capaz de proteger o cérebro dos efeitos nefastos da canábis.
Entre os efeitos mais conhecidos, estão os défices cognitivos e, nomeadamente, problemas de memória, bem como uma perda geral da motivação.
Administrando doses fortes de canábis a ratos, os investigadores conseguiram aumentar a concentração cerebral da pregnenolona nos seus cérebros e bloquear os efeitos negativos do princípio ativo da canábis (o THC), que atua sobre recetores canabinoides (CB1) situados nos neurónios.
As doses ingeridas foram bastante superiores àquelas às quais são expostos os consumidores regulares de canábis: “Da ordem de três a 10 vezes mais”, precisou Pier Vincenzo Piazza, que conduziu o estudo, citado pela agência France-Presse.
Ao aumentar as doses, os investigadores descobriram um processo natural até agora desconhecido que protege o cérebro de uma sobreativação dos recetores CB1 e diminuindo os efeitos da canábis na memória.
Realizaram igualmente testes em laboratório sobre recetores CB1 humanos em que obtiveram os mesmos resultados.
Mas como a pregnenolona é uma hormona natural, mal absorvida e rapidamente metabolizada pelo organismo, os investigadores criaram derivados da pregnenolona “alterados de maneira a poderem ser absorvidos pelo organismo e a não evoluírem para hormonas esteroides”, precisou Piazza.
“Esperamos poder começar os ensaios clínicos em seres humanos dentro de um ano ou um ano e meio, no mínimo”, acrescentou, sublinhando que se a eficácia desses derivados da pregnenolona for confirmada, se tratará da “primeira terapia farmacológica da dependência da canábis”.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela agência Lusa
Jornal i
Por Agência Lusa
publicado em 2 Jan 2014 - 20:51
http://www.ionline.pt/artigos/mundo-iciencia/descoberta-molecula-protege-cerebro-da-dependencia-canabis


No Colorado, EUA, já é possível comprar legalmente marijuana

Estado norte-americano é o primeiro nos EUA a autorizar a venda de cannabis para fins recreativos

Dezenas de clientes esperaram ao frio, com neve, a abertura de portas de lojas em Denver, no estado norte-americano do Colorado, onde desde esta quarta-feira, primeiro dia de 2014, os maiores de 21 anos podem comprar legalmente cannabis.
"Queria ser um dos primeiros a comprar marijuana e a não ser processado por isso. Este fim da proibição chega com muito atraso”, disse Jesse Phillips, 32 anos, trabalhador de uma linha de montagem, o primeiro cliente no Botana Care de Northglenn, um subúrbio de Denver, citado pela Reuters. Jesse acampou no exterior do ponto de venda desde a 1h da manhã. A agência observou longas filas de clientes em pelo menos dois pontos de venda na cidade.
A venda legal de cannabis para fins recreativos é um facto inédito em território do Estados Unidos, onde tem sido privilegiada a proibição e a repressão dos consumidores e a luta a produtores e traficantes. Dentro de alguns meses, o exemplo será seguido no estado de Washington.
Atá agora era permitido legalmente o consumo de cannabis para fins médicos em 19 estados. Na maior parte deles, o consumo recrativo também não é considerado delito.
A legalização da cannabis, com possibilidade de compra de 28 gramas de cada vez e de consumo nos limites do território do estado, foi votada em Novembro de 2012.
Quer no Colorado quer no estado de Washington, o cultivo, a distribuição e o marketing de “erva” será supervisionado pelas autoridades locais.
A AFP noticiou que empresas estão a preparar visitas organizadas. “A novidade atrai pessoas de toda a parte”, explicou Adam Raleigh, de uma fornecedora de cannabis, a Telluride Bud Company. “Tenho pessoas que virão de carro do Texas, do Arizona e do Utah, apenas para fazer História.”
A legalização, que visa reduzir o espaço para o tráfico, deverá ter um impacto económico considerável. Estimativas oficiais do estado do Colorado divulgadas pela Reuters apontam para receitas brutas anuais de 578 milhões de dólares (mais de 420 milhões de euros), incluindo 67 milhões (48,7 milhões de euros) em taxas para os cofres públicos.
O principal grupo de pressão pela legalização da cannabis, o Marijuana Policy Project, saudou, num comunicado, “o fim da Proibição” — uma referência ao período de interdição oficial do álcool no país entre 1920 e 1933.
Em Outubro de 2013, pela primeira vez, uma sondagem do Instituto Gallup revelou que a maioria dos norte-americanos se mostra favorável à legalização da marijuana. Os opositores são maioritários apenas no seio da população mais idosa.Cerca de 58% dos inquiridos apoiam a legalização do consumo, enquanto 39% se opõem.
Campanhas para que referendos sobre esta questão sejam realizados estão em curso em estados como a Califórnia, o Arizona, o Oregon e o Alasca.
Há três semanas, o Uruguai tornou-se no primeiro país do mundo a legalizar a produção, distribuição e venda de cannabis. Quando a lei entrar em vigor, em Abril de 2014, os maiores de 18 anos poderão comprar um grama por um dólar (pouco mais de 70 cêntimos). O preço será ajustado ao valor praticado no mercado ilegal — o Governo espera, assim, reduzir os lucros dos traficantes.
Jornal PÚBLICO
01/01/2014
http://www.publico.pt/mundo/noticia/no-colorado-eua-ja-e-possivel-comprar-legalmente-marijuana-1618129#/0