Substâncias Psicoativas em Ambientes Recreativos
Desde os anos 90 que, sair ao fim-de-semana para
adolescentes e jovens adultos, se converteu numa atividade de divertimento considerada fundamental,
muitas vezes associada ao consumismo.
Os dias de semana "mostram uma tendência para a
igualização formal na família, na escola, e/ou no trabalho" (Relvas et al., 2006, p.15), pelo contrário, o fim-de-semana
é um espaço para a diferenciação e para a distinção social.
Segundo Relvas et
al., (2006, p.15) "os jovens herdam uma sociedade definida em termos
de consumo e opulência, uma sociedade de bem-estar, onde o ócio e a diversão
adquirem um valor hegemónico nos critérios de construção social e onde o
consumo é o método de satisfação das necessidades".
Os ambientes recreativos noturnos têm conquistado ao
longo do tempo, um maior protagonismo na vida juvenil, "determinando
estilos de vida e legitimando comportamentos tidos como necessários para a
obtenção da diversão e do prazer imediato" (Lomba et al., 2011, p.3). Sendo o contexto em "que se assiste à
generalização e normalização do consumo recreativo[1]
de álcool e drogas bem como à adoção de outros comportamentos de risco
associados" (Lomba et al., 2011,
p.3). Nos dias de hoje os jovens iniciam o consumo de SPA em idades cada vez
mais precoces, referindo-se a estas como quase imprescindíveis, para poderem
participar em atividades recreativas noturnas (e.g dançar, ouvir música e estar
com os amigos). O consumo é considerado "um elemento estrutural da própria
diversão" (Calafat et al., 2000,
citado por Relvas et al., 2006,
p.16). Neste sentido, deve desenvolver-se uma intervenção preventiva precoce,
nos quais se deve incluir os jovens que ainda não frequentam os ambientes
recreativos noturnos e que não consomem SPA, procurando retardar o seu consumo,
bem como, os sujeitos que já o fazem, procurando moderá-lo.
Segundo o OEDT (2002) as SPA
consumidas na noite são maioritariamente estimulantes, nomeadamente o ecstasy e
cocaína. Entender o crescente protagonismo que as SPA tomam, significa perceber
o quão estas facilitam o estabelecimento de relações, o
contacto com os grupos, a identidade e coesão ao grupo (ex. reforçam o vínculo
tribal do grupo, proporcionam
euforia, aumentam a intimidade, desinibição e a dissolução dos medos) (Godinho,
1995; Lorga, 2001; Viana, 2002, citado por Lomba et al., 2008), acentuando uma certa predisposição inconsequente
para experiências sexuais efémeras do tipo “one
night stand” (Lomba, 2006, citado por Lomba et al., 2008, p.32). Atualmente o uso de SPA em ambientes
recreativos é tão elevado que estes contextos são considerados fatores de risco
para o seu consumo (Bellis, Hughes & Lowey, 2002; Simões, 2005; OEDT, 2007,
citado por Lomba et al.,
2011). É importante referir que o consumo de SPA potencia outros
comportamentos de risco, na área da sexualidade, circulação rodoviária e
violência. Neste sentido, é importante analisar, compreender e dar protagonismo
aos ambientes recreativos para que se possam arranjar soluções para estes
problemas.
Através de um estudo descritivo[2]
realizado numa amostra de 1257 jovens frequentadores de ambientes recreativos
noturnos com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos, oriundos de 9
cidades portuguesas[3], foi
possível uma melhor compreensão acerca desta realidade. Neste estudo
constatou-se que em todas as cidades alvo de análise os jovens saem em média mais do que uma noite por fim
de semana e visitam entre 2 a 3 locais de diversão por noite. O roteiro
escolhido para cada noite, está dependente dos rituais
recreativos, sempre em permanente
ligação
com a música e a dança. No entanto, tal como refere
Alonso (2002, citado por Lomba
et al., 2011) esta prática (de mudar frequentemente de local recreativo na mesma
noite), pode relacionar-se com um maior consumo de
álcool ou de outras SPA, e pode implicar maiores
perigos,
sobretudo quando associada à condução de veículos
automóveis ou a outros fatores como o cansaço.
São vários os motivos
subjacentes à escolha dos locais recreativos, entre os quais se destaca: a
possibilidade de encontrar amigos e o tipo de música. Estes resultados
confirmam que, "para estes jovens, a noite é o espaço em que as redes
sociais se entrelaçam com o grupo de iguais e onde a música tem a função de ser
o elemento catalisador da socialização" (Lomba et al., 2011, p.7). Outros motivos subjacentes a esta escolha incluem
a acessibilidade a bebidas alcoólicas baratas e a outras SPA, bem como,
motivações de cariz sexual.
Bibliografia
Lomba, L.,
Apóstolo, J., Mendes, F., & Campos, D. (2011). Jovens portugueses que
frequentam ambientes recreativos nocturnos. Quem são e comportamentos que
adoptam. Revista
TOXICODPENDÊNCIAS, 17 (1), 3-15.
Lomba, L., et al. (2008). Consumos e comportamentos
sexuais de risco na noite de Coimbra. Revista TOXICODPENDÊNCIAS, 14 (1), 31-41.
Relvas, J., Lomba, L., & Mendes, F. (2006). Novas Drogas e Ambientes Recreativos.
Camarate: Lusociência.
Texto retirado do Relatório de Estágio "Associação Existências: Velhos Enredos...uma Nova História", realizado por Telma Maques.
[1] Os "consumos recreativos,
constituem uma nova realidade, dada a sua dimensão sociocultural, transversalidade
e impactos económicos e financeiros, com repercussões ainda não bem
compreendidas e estudadas na família e na comunidade" (Relvas et al.,2006, p.7)
[2]Este estudo
intitula-se de "Jovens portugueses que
frequentam ambientes recreativos noturnos. Quem são e comportamentos que adotam" de Lurdes
Lomba, João Apóstolo, Fernando Mendes e Diana Catarina de Campos (2011).
[3] Este estudo foi
desenvolvido em 9 cidades portuguesas: Angra do Heroísmo, Aveiro, Funchal,
Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Viseu, Ponta Delgada e Coimbra.
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