sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Substâncias Psicoativas em Ambientes Recreativos



Substâncias Psicoativas em Ambientes Recreativos 
Desde os anos 90 que, sair ao fim-de-semana para adolescentes e jovens adultos, se converteu numa atividade de divertimento considerada fundamental, muitas vezes associada ao consumismo.
Os dias de semana "mostram uma tendência para a igualização formal na família, na escola, e/ou no trabalho" (Relvas et al., 2006, p.15), pelo contrário, o fim-de-semana é um espaço para a diferenciação e para a distinção social.
Segundo Relvas et al., (2006, p.15) "os jovens herdam uma sociedade definida em termos de consumo e opulência, uma sociedade de bem-estar, onde o ócio e a diversão adquirem um valor hegemónico nos critérios de construção social e onde o consumo é o método de satisfação das necessidades".
Os ambientes recreativos noturnos têm conquistado ao longo do tempo, um maior protagonismo na vida juvenil, "determinando estilos de vida e legitimando comportamentos tidos como necessários para a obtenção da diversão e do prazer imediato" (Lomba et al., 2011, p.3). Sendo o contexto em "que se assiste à generalização e normalização do consumo recreativo[1] de álcool e drogas bem como à adoção de outros comportamentos de risco associados" (Lomba et al., 2011, p.3). Nos dias de hoje os jovens iniciam o consumo de SPA em idades cada vez mais precoces, referindo-se a estas como quase imprescindíveis, para poderem participar em atividades recreativas noturnas (e.g dançar, ouvir música e estar com os amigos). O consumo é considerado "um elemento estrutural da própria diversão" (Calafat et al., 2000, citado por Relvas et al., 2006, p.16). Neste sentido, deve desenvolver-se uma intervenção preventiva precoce, nos quais se deve incluir os jovens que ainda não frequentam os ambientes recreativos noturnos e que não consomem SPA, procurando retardar o seu consumo, bem como, os sujeitos que já o fazem, procurando moderá-lo.
Segundo o OEDT (2002) as SPA consumidas na noite são maioritariamente estimulantes, nomeadamente o ecstasy e cocaína. Entender o crescente protagonismo que as SPA tomam, significa perceber o quão estas facilitam o estabelecimento de relações, o contacto com os grupos, a identidade e coesão ao grupo (ex. reforçam o vínculo tribal do grupo, proporcionam euforia, aumentam a intimidade, desinibição e a dissolução dos medos) (Godinho, 1995; Lorga, 2001; Viana, 2002, citado por Lomba et al., 2008), acentuando uma certa predisposição inconsequente para experiências sexuais efémeras do tipo “one night stand” (Lomba, 2006, citado por Lomba et al., 2008, p.32). Atualmente o uso de SPA em ambientes recreativos é tão elevado que estes contextos são considerados fatores de risco para o seu consumo (Bellis, Hughes & Lowey, 2002; Simões, 2005; OEDT, 2007, citado por Lomba et al., 2011). É importante referir que o consumo de SPA potencia outros comportamentos de risco, na área da sexualidade, circulação rodoviária e violência. Neste sentido, é importante analisar, compreender e dar protagonismo aos ambientes recreativos para que se possam arranjar soluções para estes problemas.
Através de um estudo descritivo[2] realizado numa amostra de 1257 jovens frequentadores de ambientes recreativos noturnos com idades compreendidas entre os 15 e os 35 anos, oriundos de 9 cidades portuguesas[3], foi possível uma melhor compreensão acerca desta realidade. Neste estudo constatou-se que em todas as cidades alvo de análise os jovens saem em média mais do que uma noite por fim de semana e visitam entre 2 a 3 locais de diversão por noite. O roteiro escolhido para cada noite, está dependente dos rituais recreativos, sempre em permanente ligação com a música e a dança. No entanto, tal como refere Alonso (2002, citado por Lomba et al., 2011) esta prática (de mudar frequentemente de local recreativo na mesma noite), pode relacionar-se com um maior consumo de álcool ou de outras SPA, e pode implicar maiores perigos, sobretudo quando associada à condução de veículos automóveis ou a outros fatores como o cansaço.
São vários os motivos subjacentes à escolha dos locais recreativos, entre os quais se destaca: a possibilidade de encontrar amigos e o tipo de música. Estes resultados confirmam que, "para estes jovens, a noite é o espaço em que as redes sociais se entrelaçam com o grupo de iguais e onde a música tem a função de ser o elemento catalisador da socialização" (Lomba et al., 2011, p.7). Outros motivos subjacentes a esta escolha incluem a acessibilidade a bebidas alcoólicas baratas e a outras SPA, bem como, motivações de cariz sexual.

Bibliografia
Lomba, L., Apóstolo, J., Mendes, F., & Campos, D. (2011). Jovens portugueses que frequentam ambientes recreativos nocturnos. Quem são e comportamentos que adoptam. Revista TOXICODPENDÊNCIAS, 17 (1), 3-15.
Lomba, L., et al. (2008). Consumos e comportamentos sexuais de risco na noite de Coimbra. Revista TOXICODPENDÊNCIAS, 14 (1), 31-41.
Relvas, J., Lomba, L., & Mendes, F. (2006). Novas Drogas e Ambientes Recreativos. Camarate: Lusociência.


Texto retirado do Relatório de Estágio "Associação Existências: Velhos Enredos...uma Nova História", realizado por Telma Maques.

 

[1] Os "consumos recreativos, constituem uma nova realidade, dada a sua dimensão sociocultural, transversalidade e impactos económicos e financeiros, com repercussões ainda não bem compreendidas e estudadas na família e na comunidade" (Relvas et al.,2006, p.7)
[2]Este estudo intitula-se de "Jovens portugueses que frequentam ambientes recreativos noturnos. Quem são e comportamentos que adotam" de Lurdes Lomba, João Apóstolo, Fernando Mendes e Diana Catarina de Campos (2011).
[3] Este estudo foi desenvolvido em 9 cidades portuguesas: Angra do Heroísmo, Aveiro, Funchal, Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Viseu, Ponta Delgada e Coimbra.

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