Quem usa garante que tem mais e melhor sexo, mas também admite mais percalços e desatenções. Os investigadores avisam que o efeito de certas substâncias pode ser fatal
Cocaína foi valorizada pelos inquiridos por ser o "afrodisíaco dos tempos modernos" e por estar na moda entre os jovens
Um estudo patrocinado pela Comissão Europeia revela uma relação entre o uso de álcool e de drogas por parte dos jovens e comportamentos sexuais de risco.
De acordo com um inquérito feito a 1341 pessoas, de nove cidades europeias, com idades entre os 16 e os 35 anos, este tipo de substâncias é usado de forma estratégica quer como factor de desinibição, quer para melhorar a performance sexual.
Entre o grupo de inquiridos de Lisboa, a cidade portuguesa escolhida pelos investigadores, 66,7 por cento afirmaram já ter consumido cannabis e 27,1 por cento experimentado cocaína. Um quarto afirmou ainda ter consumido ecstasy. O álcool é, em todo o caso, a substância mais usada de muito longe, com um resultado de 99,3.
No geral, contabilizando os participantes das nove cidades, os dados mostram que 28,6 por cento dos consumidores de álcool fazem-no para facilitar a existência de encontros sexuais. Já o uso de cocaína tem como objectivos prolongar a relação sexual (para 26,3 por cento dos consumidores desta substância) e aumentar as sensações durante o acto sexual (28,5).
A cannabis e o ecstasy estão também associados, sobretudo, ao aumento de sensações durante o acto sexual (25,8 e 22,6).
Os investigadores concluem ainda que a iniciação sexual antes dos 16 anos está associada ao uso do álcool, da cannabis, da cocaína e do ecstasy. E que as pessoas que consomem drogas de forma regular têm mais parceiros sexuais.
A cocaína é apresentada como a droga mais indicada pelos inquiridos que querem "explorar a excitação", que procuram "sexo invulgar" e "despertar sensações". "Em grande medida é o afrodisíaco moderno", concluem os autores do estudo, ontem divulgado à imprensa e que será publicado na revista BMC Public Health.
A comparação entre os utilizadores de cocaína regulares e aqueles que nunca experimentaram esta droga demonstrou que os primeiros são cinco vezes mais propensos a terem cinco ou mais parceiros sexuais no período de um ano, do que os últimos.
A mesma média é alcançada pelos consumidores de cannabis, cocaína ou ecstasy e pelos inquiridos que afirmaram ter estado bêbedos nas quatro semanas que antecederam o questionário.
Cocaína vista como sexy
Os autores do estudo, intitulado "O uso sexual do álcool e de drogas e os riscos para a saúde", chamam a atenção para o facto de estes dados poderem ser lidos como positivos pelos jovens e da necessidade de as campanhas na área das doenças sexualmente transmissíveis contraporem os riscos associados a este tipo de comportamentos.
É avançado o exemplo de estas substâncias diminuírem, a prazo, a potência sexual. Mas não só: apesar de sobretudo a cocaína ser vista como uma substância sexy, frequentemente a actividade sexual acompanhada do seu consumo "resulta em decisões menos informadas", em mais "relações desprotegidas" e em mais relações "de que as pessoas se arrependem".
O número dos que assumiram ser consumidores regulares é de 91 em 1341 participantes no questionário, mas são os seus utilizadores os que disseram mais vezes ter tido relações nos últimos 12 meses (58,2 por cento tiveram mais de 50 vezes) e os que mais vezes não usaram preservativo.
O mesmo vale para quase todas as outras substâncias alvo de estudo. Aqueles que consumiram álcool de uma forma regular (1011 num total de 1341 inquiridos) tiveram mais sexo, mas também tiveram mais sexo de forma "totalmente desprotegida".
Jornal Público 09.05.2008, Ricardo Dias Felner
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