sexta-feira, 23 de maio de 2008

A decisão de deixar o cigarro é contagiosa


Deixar de fumar é social e culturamente contagioso, defende uma equipa de investigadores norte-americanos na conceituada revista médica New England Journal of Medicine. Trocando por miúdos: nos últimos 30 anos, as pessoas têm deixado de fumar em grupos. "Analisando grandes redes sociais, descobrimos que as pessoas deixam de fumar como que em grupo, ao mesmo tempo, mesmo que não se conheçam entre si", explica um dos autores do trabalho, Nicholas Christakis, citado pela AFP."Há como que uma mudança cultural ou do espírito dos tempos num determinado grupo social, entre pessoas que estão ligadas mesmo sem se conhecerem pessoalmente, e que deixam de fumar ao mesmo tempo", adianta o investigador da Faculdade de Medicina de Harvard. Para chegarem a esta conclusão, os cientistas analisaram uma rede social de 12.067 pessoas, entre 1971 e 2003, anotando todos as mudanças ao nível familiar, amigos próximos, colegas de trabalho e vizinhos. No total, a rede criada pelos investigadores incluía 53.228 relações sociais, familiares e profissionais."Ao analisar o conjunto destas redes ao longo de mais de 30 anos, constata-se que os núcleos de fumadores continuam mais ou menos do mesmo tamanho, mas que se tor-naram cada vez menos numerosos", adianta James Fowler, da Universidade da Califórnia, outro autor do estudo.Esta equipa já tinha chegado à conclusão, em 2007, que a obesidade é socialmente contagiosa, analisando esta mesma base de dados. Agora, descobriram que há um efeito de cascata quando as pessoas deixam de fumar. Se alguém deixa o cigarro, as hipóteses de que um amigo de um seu amigo deixe também de fumar aumentam em 30 por cento - ainda que o amigo intermédio continue fiel ao tabaco. Este intermediário desempenha a função de mensageiro das normas sociais, conclui Christakis.Por outro lado, os fumadores são cada vez mais marginalizados por terem esse hábito. Em 1971, fumar ou não fumar não fazia diferença socialmente. Mas, nas décadas de 80 e 90, "houve uma mudança radical de atitude, que se traduz na rejeição dos fumadores, forçados para a periferia das redes sociais", sublinha Fowler. "Ao contrário do que se pensava quando andávamos no ensino secundário, fumar tornou-se uma má estratégia para ser popular."


Jornal Público - 22.05.2008

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