sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cocaína já é produzida em "laboratórios"na UE

A Península Ibérica é utilizada como ponto de entrada principal na Europa da cocaína produzida na América do Sul. Portugal é tocado pelas três rotas atlânticas identificadas pelas polícias. Na UE, a cocaína é a droga dura mais usada e já tem por cá "laboratórios".

Um estudo conjunto do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência e da Europol, ontem divulgado, refere a Península Ibérica como ponto principal de entrada da cocaína na Europa e indica Portugal como país receptor de tráfico através de três rotas. Estas têm origem na América do Sul, a grande produtora mundial desta droga, e servem em comum outros pontos importantes de destino na Europa, como o Reino Unido e a Holanda.

A entidade europeia ligada ao estudo e prevenção da toxicodependência e a polícia europeia referem três rotas: a do Norte, oriunda da zona das Caraíbas, e que passa pelos Açores e daí para Portugal e Espanha.

Esta via setentrional faz passar 40% da cocaína que chega à Europa. O relatório, que enquadra realidades do tráfico, produção e consumo até 2008, indica que a rota do Norte usa cargueiros e embarcações de recreio. Já a rota central passa da América do Sul por Cabo Verde, Madeira ou Canárias, recorrendo muitas vezes a embarcações de pesca para efectuar o desembarque, precisa o relatório. Mais recentemente identificada, há a rota africana, que também tem origem na América do Sul e passa por países da África ocidental.

Segundo o relatório, o tráfico de cocaína para a Europa continua a servir-se dos transportes aéreos, recorrendo a "correios" (ou "mulas"), utilizando em muitos casos laços históricos entre países e o uso da mesma língua (castelhano ou português).

A análise feita pelas entidades de prevenção do consumo e de controlo policial identificam uma realidade distinta em alguns países: em Espanha, na Holanda e no Reino Unido o consumo de cocaína é "um problema instalado" desde há anos, enquanto em França, na Itália e em Portugal se registou "um aumento de consumo e de apreensões nos últimos anos".

Nas referências feitas a Portugal, o relatório lembra que o pico das apreensões desta droga dura foi atingido em 2006 (com 34 toneladas, o que correspondeu a 28% do total apreendido na Europa). Já em 2007, as apreensões feitas pelas polícias portuguesas cifraram-se em 7,3 toneladas (cerca de um décimo do total europeu).

As duas entidades subscritoras do relatório consideram que as quantidades apreendidas e as variações registadas ao longo dos anos devem ser interpretadas com cautela.

Tanto pode ter havido variação no tráfico, como variação na procura ou no próprio tráfico, alerta o documento "Cocaína: uma Perspectiva da União Europeia no Contexto Global". No entanto, os dados disponíveis poderão autorizar a interpretação de que o preço da droga baixou e que o consumo se manteve elevado. Segundo números das Nações Unidas, as apreensões na Europa diminuíram em 2007 (foram 77 toneladas face às 120 de 2006).

Os dados disponibilizados pelo relatório indicam que 13 milhões de europeus entre os 15 e os 64 anos já consumiram cocaína e que três milhões de jovens o fizeram no último ano. As autoridades policiais têm vindo a detectar nos últimos anos outro tráfico, o de uma substância lícita, o permanganato de potássio. Trata-se de um percursor químico usado na purificação da pasta de cocaína.

No ano de 2007, foram apreendidas 153 toneladas deste produto, na sua maioria em portos da América do Sul. Ele é importado legalmente, mas depois desviado para os "laboratórios" de fabrico da cocaína. A Colômbia é o principal destino, mas já foram tentados desembarques na Costa do Marfim, Nigéria e Marrocos. As apreensões de permanganato aumentaram 50% de 2006 para 2007.

Relativamente aos consumidores, o relatório afirma que aumentaram os pedidos de tratamento desta droga sinalizada como de uso elevado em festas e discotecas. A taxa de mortalidade nos consumidores é elevada, sobretudo se associada a heroína.

Eduarda Ferreira

http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=1556988

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